Embora haja inúmeras regulamentações para o
exercício das atividades operacionais de Segurança Privada, infelizmente, para
as atividades gerenciais e estratégicas a realidade é muito diferente. As
regulamentações para gestão da área de segurança privada ainda se apresentam de
forma muito tímidas, pouco ou quase nada regulamentadas, permitindo por vezes
que pessoas despreparadas e amadoras estejam a frente das decisões sobre as
equipes de segurança.
A situação é real e bastante preocupante.
Compete a nós, profissionais e gestores de segurança a mudarmos essa cultura
empresarial. Quantas vezes já observamos a administração da área de segurança,
vinculada a área de segurança do trabalho? ou ainda, subordinada a assistentes
de RH? Poucas são as empresas que mantém uma área de segurança privada,
autônoma e com os mais diversos níveis hierárquicos, como diretor, gerente,
coordenador, supervisor de segurança, etc.
Fica a pergunta, o que faz de nossa área
menos importante do que outras áreas da empresa, para não termos uma estrutura
independente? Questionamentos dos mais variados me vêm à cabeça, como por
exemplo: Você aceitaria passar por
procedimento cirúrgico com um açougueiro? Com um curandeiro? Frases como
aquela máxima que escutamos muitas vezes de pessoas que não entendem sobre
prevenção e gestão de riscos, “para que
investir em segurança privada se já pagamos seguro patrimonial?” Aí meu
caro amigo, gostaria que refletíssemos no título desse artigo, E o
dia que não der certo? O que faremos?
Certamente atribuir a culpa de algo que venha
dar errado à outras pessoas será a alternativa encontrada por esses gestores
despreparados, afinal, alguém precisa ser responsabilizado e culpar a si mesmo
pela incompetência de gerir uma área pela qual desconhecia, será muito para
aquele que assumiu riscos dos quais nem imaginava. Coitado de seus
subordinados! Com certeza a culpa será do Severino! “O tal do porteiro do cara
crachá” lembra???
É muito comum encontrar administradores de
empresas que insistem em resumir as atividades da “segurança” em apenas controlar o que entra e o que sai dos locais
protegidos. Em partes, até entendo esse pensamento, afinal controlar o que
entra e o que sai, é praticamente o “carro
chefe” da área de segurança privada, contudo, as atividades de segurança
não podem simplesmente serem resumidas a só isso! Segurança Privada vai muito
além!
Dessa forma, uma vez não administrada corretamente, sem o uso de ferramentas e conhecimentos específicos, podem corroborar para grandes prejuízos ou até mesmo a extinção do negócio.
"Segurança é gerir riscos, mitigar perigos, com o objetivo de esgotar perdas! "
Dessa forma, uma vez não administrada corretamente, sem o uso de ferramentas e conhecimentos específicos, podem corroborar para grandes prejuízos ou até mesmo a extinção do negócio.
Então como é possível uma área com tamanha
importância ser tão desvalorizada?
Talvez nós mesmos sejamos os grandes vilões
desse cenário, aliado ao reflexo cultural desde seu surgimento.
Para quem desconhece a história da Segurança
Privada no Brasil, a área foi regulamentada no ano de 1.969, quando usualmente
as empresas de segurança eram gerenciadas por militares aposentados. A condição
era tão irreal aos dias atuais, que os vigilantes tinham até poder de polícia
quando em efetivo serviço! Já imaginaram isso? Era a plena transferência das
obrigações do Estado para a iniciativa privada, que graças ao bom senso dos
legisladores, essa anomalia legal não perdurou mais do que 01 ano e muitas
coisas mudaram de lá para cá. Muitas
subdivisões da área de segurança privada começaram surgir como segurança
eletrônica, segurança pessoal, segurança de eventos, e por aí vai.
O que não mudou muito desde seu surgimento
foi a forma em que muitas empresas encaram a seleção de seus gestores de
segurança. Usualmente costumam buscar profissionais de segurança pública sem
que estejam realmente capacitados à gerirem a área de segurança privada,
e assim os escolhem, por acreditarem que simplesmente por terem trabalhado por
mais de 30 anos como policiais estejam aptos a gerenciarem uma equipe de
segurança.
Outras empresas, diga-se de passagem, a grande
maioria, atribuem a subordinação da área de segurança à profissionais sem
conhecimentos e formação específicos em segurança privada.
Acreditar que profissionais com formação em
áreas não relacionadas ou com formação em segurança pública, e, sobretudo sem
qualquer experiência profissional em segurança privada, possam estar a frente
da gestão de riscos empresarial, é com certeza negligenciar a continuidade do
negócio.
Já esclareço que não sou contra iniciantes ou
servidores públicos aposentados na gestão da área de segurança, mesmo porque,
iniciei minhas atividades profissionais nas fileiras do glorioso Exército
Brasileiro e carrego comigo, o orgulho de ser Oficial de Infantaria R/2, (R/2 - reserva não remunerada), mas como
qualquer outra área empresarial, o gestor carece dominar conhecimentos
específicos e estar preparado técnico-profissionalmente para esse fim.
Se não bastasse todo o agravamento causado
com o “comandamento” despreparado, desvios de função, desvalorização
profissional, ainda ocorrem o efeito da cascata salarial na contratação de
servidores públicos aposentados, gerando um ciclo vicioso na remuneração da
área.
Sem querer causar polêmicas, é comum termos
servidores públicos aposentados, que aceitam trabalhar na área de segurança
privada com a intenção de complemento de renda, pois não querem ficar parados,
uma vez que tem força e vitalidade para o serviço. É como se o salário da
iniciativa privada fosse à hora extra de sua aposentadoria. E o reflexo disso,
é que seus subordinados dos quais não tem aposentadoria, dificilmente alcançarão
padrões salariais como deveriam, afinal seria ilógico um subordinado ganhar
mais que o chefe.
Outro ponto de destaque é o reflexo do
“militarismo” na segurança privada que impera até os dias atuais, como por
exemplo, as famosas frases motivadoras das quais ouvimos e por vezes repetimos,
“o
possível já está feito; o impossível será feito”; “os melhores são apenas bons”; “missão dada,
missão cumprida!” e por aí vai. São pensamentos da caserna que norteiam
o dia a dia do militar, que isoladamente, nenhum reflexo negativo possa causar,
porém a ideia central desses pensamentos é extrair ao máximo dos profissionais
com os mínimos recursos necessários, uma vez que na área pública repasses de
recursos são escassos e remunerações variáveis (horas extras) são inexistentes.
E por conta dessas e outras práticas
“motivadoras”, com o intuito de alcançar sempre mais com menos, é que a área de
segurança acaba sendo deixada a segundo plano, dando espaço a baixos salários,
mobiliários reaproveitados, etc, e sempre, cada vez mais, recebendo novas
atividades que não são relacionadas à segurança, por acreditarem que passam
muito tempo ociosos, ignorando que a atividade fim é estar e permanecer
atentos, permanecer em constante vigilância, observando tudo e a todos nos
mínimos detalhes para que assim, possamos exercer as funções na garantia da
proteção de vidas, bens e patrimônio.
Assim como qualquer atividade profissional, a
pressão, a cobrança, os desafios são iguais ou maiores do que nas outras áreas,
que aliados a desvalorização da categoria, com baixos índices salariais de
mercado, fazem com que muitas pessoas técnicas e muito bem preparadas a deixarem
suas atividades em segurança privada e migrarem para outras atividades.
Não exagerando, mas ao analisarmos o cenário
atual brasileiro versus as
responsabilidades da segurança privada, podemos dizer que um erro na segurança
pode significar alto prejuízo ou até mesmo riscos imensuráveis à vidas e
patrimônio,
Manter-se capacitado, treinado e atento são
pontos fundamentais para existência profissional nos dias atuais e assim, os
profissionais que se mantém atualizados com forte rede de relacionamentos, devem
se valorizar, buscar salários compatíveis com sua posição hierárquica
profissional, para que assim, as empresas e suas administrações passem a também
os valorizar.
É importante que sejamos proativos, fazermos
o possível para alcançar os objetivos e metas em consonância às metas e
objetivos da empresa, sem acreditar que recursos insuficientes, sejam eles, de
ordem salarial, material, etc, estejam a contento para o pleno funcionamento das
atividades de segurança empresarial.
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