quarta-feira, março 13, 2013

CONFIE EM DEUS

 
ELE ESTÁ EM VOCÊ,
 

ESCOLHA A DEUS.


"Estamos a caminho de curar a cegueira"

Neurocientista brasileiro desenvolve uma tecnologia que abre a possibilidade de recuperar a visão e a audição em humanos

por Juliana Tiraboschi

O neurocientista brasileiro Miguel Nicolelis não se cansa de surpreender. Em 2011, fez um macaco controlar um braço robótico apenas com o pensamento, feito inédito na história da ciência e que entrou na lista das tecnologias que irão mudar o mundo, elaborada pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Nesta semana, uma das ramificações da revista britânica "Nature" publicou a nova e surpreendente pesquisa de Nicolelis: ele e seus colegas Eric Thomson e Rafael Carra fizeram ratos "sentir" a luz infravermelha, invisível para os mamíferos. Dessa forma, criaram um novo sentido além dos cinco naturais: visão, audição, paladar, tato e olfato. Tão importante quanto a descoberta são os novos caminhos abertos por ela. Fazer com que uma parte do cérebro aprenda um novo sentido indica que é possível recuperar capacidades perdidas, utilizando a mesma técnica. Para curar determinados tipos de cegueira, bastaria religar os nervos ópticos em uma parte do córtex cerebral que não estivesse avariada. O mesmo poderia ser feito com os demais sentidos.

Professor de neurobiologia, engenharia biomédica, psicologia e neurociência e codiretor do Centro de Neuroengenharia da Universidade de Duke, nos EUA, e pesquisador do Instituto Internacional de Neurociência de Natal Edmond e Lily Safra (INN), Nicolelis fala na entrevista a seguir sobre esse estudo e projetos como o Andar de Novo, que engloba uma série de pesquisas relacionadas à ligação entre cérebro e máquina e ao uso da atividade elétrica produzida pelos neurônios para controlar dispositivos robóticos como braços e pernas artificiais. Por trás desse plano está o grande sonho do cientista: fazer um tetraplégico brasileiro voltar a andar com a ajuda de um exoesqueleto e dar o pontapé inicial na Copa de 2014.

Istoé -Nessa nova pesquisa, vocês fizeram com que os ratos sentissem a luz infravermelha como uma informação táctil?

Miguel Nicolelis - Exatamente. Por isso dizemos que é como se eles "tocassem" a luz. Induzimos os animais a reconhecer uma luz invisível como se fosse uma sensação do tato.

Istoé -E os animais demoraram quanto tempo para aprender esse novo sentido?

Miguel Nicolelis - Cerca de 30 dias. E nós notamos que os ratos mudaram seu comportamento. Eles começaram a fazer gestos com a cabeça que se parecem com movimentos de morcego, "escaneando" o ambiente em busca da luz. Eles estavam em uma sala escura, não enxergavam a luz, mas, toda vez que chegavam próximo dela, sentiam mais a sua intensidade táctil. Assim, percebemos que eles desenvolveram uma nova sensação e uma estratégia para processar esse estímulo.

Istoé -Vocês esperavam esse resultado ou foi uma surpresa?

Miguel Nicolelis - Foi surpreendente. Primeiro pela rapidez com que aconteceu a mudança e depois pela forma como o animal usa esse sentido de uma maneira eficiente. Os ratos passaram de movimentos aleatórios em busca de comida a quase 100% de acerto.

Istoé -Esse resultado mostra que o cérebro pode ser bem mais plástico do que se imagina?

Miguel Nicolelis - Sim, sem dúvida. Ninguém esperaria que um pedaço de córtex táctil fosse capaz de criar uma codificação de uma luz invisível. Essa foi uma grande demonstração de que, mesmo durante a fase adulta da vida, o cérebro é capaz de criar um novo modelo interno do mundo exterior, mesmo que seja de um sinal que o corpo nunca experimentou.

Istoé -E esse novo modelo seria um novo sentido?

Miguel Nicolelis - Isso mesmo. Não temos um nome para isso, mas é como se tivéssemos criado uma mistura de visão e tato, parecido com um fenômeno raro chamado sinestesia. Ele acontece com pessoas que ouvem um tipo de som e enxergam determinadas cores, uma mistura de duas modalidades de sentido.

Istoé -E vocês pretendem dar continuidade a essa pesquisa?

Miguel Nicolelis - Sim, já temos um macaco que consegue sentir luz infravermelha. Podíamos ter testado qualquer outro tipo de onda eletromagnética: de rádio, raio X ou magnética propriamente dita. Escolhemos a infravermelha porque ela não interfere com os registros cerebrais. Agora estamos pensando em iniciar testes com ondas de rádio.

Istoé -O sr. acha que essa técnica poderá ser aplicada na criação de novos sentidos em humanos?

Miguel Nicolelis - Acho que sim. Com os métodos não invasivos para estimular o cérebro que estão começando a aparecer, é possível. Imagine poder aumentar os canais sensoriais dos seres humanos. Iria ampliar bastante nossa capacidade de ver o mundo. Imagine poder ter visão de raio X, sentir ondas de rádio, infravermelhas, campo magnético. Teríamos uma capacidade de interpretar o mundo além dos limites do corpo.

Istoé -Como a aplicação dessa técnica pode ajudar na recuperação de visão e audição em pessoas cegas e surdas? Há um potencial de cura dessas deficiências?

Miguel Nicolelis - Em pessoas que tiveram lesões no córtex e ficaram cegas, por exemplo, sim, seria possível reverter o quadro, porque você pode usar o córtex para outras coisas. Em teoria, poderíamos tratar qualquer déficit sensorial com esse tipo de abordagem. É outra linha de pesquisa que vai se abrir.

Istoé -O sr. acha que a ciência está próxima disso?

Miguel Nicolelis - Esses trabalhos começam a colocá-la próxima disso. É uma outra porta que ninguém tinha pensado em usar até esse momento. Ainda não dá para estimar quão próximos estamos da cura da cegueira ou da surdez por meio dessa técnica, mas as coisas estão acontecendo muito rapidamente. E é um incentivo muito grande para os pesquisadores saber que um pedaço de córtex não visual pode ser usado para se transformar nesse estímulo. Agora temos outra alternativa de pesquisa.

Istoé -Em que estágio está o projeto Andar de Novo?

Miguel Nicolelis - Estamos trabalhando dia e noite, aqui na Universidade de Duke, no Instituto de Neurociências em Natal (RN) e na Universidade Técnica de Munique. Recebemos pedidos de adesão de diversas instituições do Brasil e do resto do mundo que querem colaborar. Agora estamos combinando todos os registros cerebrais que criamos e construindo o exoesqueleto. Já temos um protótipo para macacos, vamos testá-lo nos próximos quatro meses. O plano é simular uma lesão medular no animal com uma anestesia que fará com que ele fique paralisado da cintura para baixo por seis horas para testar o equipamento.

Istoé -Está mantido seu plano de levar um tetraplégico a dar o pontapé inicial na Copa de 2014?

Miguel Nicolelis - Sim, cientificamente estamos em dia com a pesquisa. Estamos começando o processo de selecionar pacientes no Brasil e montar a equipe clínica. O projeto já é conhecido no mundo inteiro. Para a área de neurociências é como ir para a Lua, como um pouso em Marte.

Istoé -E como anda o projeto da Cidade do Cérebro, que vai abrigar o Instituto de Neurociências e uma escola de ciências?

Miguel Nicolelis - Estamos esperando a Universidade Federal do Rio Grande do Norte cumprir a promessa de terminar o campus no prazo. O projeto está atrasado em vários anos. É uma obra muito grande. A parte de alvenaria dos dois prédios está pronta, agora faltam as obras de infraestrutura. Esperamos que eles sejam entregues no ano que vem para podermos iniciar a nossa escola em período integral para três mil alunos e levar o Instituto de Neurociências para lá. Gostaríamos de inaugurá-lo antes da Copa.

Istoé -Como vai funcionar essa escola?

Miguel Nicolelis - Será a primeira instituição de ensino que vai começar no pré-natal da mãe. Nós já temos um programa de pré-natal há cinco anos na cidade de Macaíba (RN), onde a mortalidade materna era de 90 óbitos a cada 100 mil partos. Estamos avaliando os números, mas reduzimos dramaticamente esse índice, e nosso trabalho virou referência para o Ministério da Saúde. Essas são as mães dos nossos futuros alunos. A fase crucial de formação do cérebro é no período pré-natal. Ao longo desses anos fomos introduzindo técnicas para que os bebês nasçam com seu potencial neurobiológico intacto. Quando a escola abrir, essas crianças terão um período de currículo oficial e um dedicado à educação científica. Isso acontecerá desde o berçário até o final do ensino médio.

Istoé -Há três anos o sr. deu uma entrevista criticando a falta de incentivo oficial a esses projetos. A situação continua a mesma?

Miguel Nicolelis - Continua muito parecida. O governo do Rio Grande do Norte não dá muita relevância para esse tipo de investimento em educação científica. Mas já nos conformamos com isso, e os recursos do governo federal estão sendo suficientes.

Istoé -Em 2011, o sr. rompeu com o cofundador do Instituto de Neurociências Sidarta Ribeiro, que deixou o projeto junto com outros pesquisadores da UFRN. Como está a situação hoje?

Miguel Nicolelis - O que aconteceu é que essas dez pessoas que saíram do INN não aceitavam as normas impostas pelo instituto e pelo governo federal. Em qualquer lugar, você tem que seguir regras. Por exemplo, você tem que esperar o fabricante vir instalar um equipamento – se abrir antes, perde a garantia –, tem que aprovar protocolos, as pessoas que acessam o instituto têm de ser identificadas e existem questões de segurança em relação à propriedade intelectual.

Istoé -Uma das reclamações do grupo que se desligou girava em torno da dificuldade de acesso de pessoal da UFRN ao instituto.

Miguel Nicolelis - Imagina... Eles tinham uma lista de 90 nomes que nunca se materializou. A média de presença de gente da universidade era de apenas 12 pessoas por dia. Quando percebemos que o conceito deles não batia com o nosso, para nós foi muito tranquilo que eles saíssem. Ficamos surpresos com o estardalhaço que isso gerou. E agora, quase dois anos depois, todas as reivindicações que eles fizeram, como a retirada de equipamentos, foram negadas pelas agências reguladoras. A atitude deles demonstrou imaturidade e falta de seriedade. Essas coisas acontecem em todo lugar e não viram notícia de jornal.

OBRIGADO


DICAS DE HOJE


Justiça sentencia colegas de trabalho por assédio moral contra empregado

 

Por: Sabrina Alves

Casos de assédio moral estão sendo cada vez mais julgados pelo Tribunal de Justiça do Trabalho (TRT), e a 3ª Vara de Uberaba, através do juiz Flávio Vilson da Silva Barbosa julgou mais um caso de exposição de trabalhadores em situações humilhantes e constrangedoras.

O caso, de acordo com TRT, o denunciante vinha passando por repetidas situações ofensivas e se expondo a repetidas e exaustivas jornadas de trabalho. Ainda de acordo com o TRT, “nos tempos atuais, a tolerância da empresa a práticas que desestabilizem emocionalmente o empregado é o quanto basta para caracterizar omissão do poder diretivo e, consequentemente, a prática de ato ilícito que leva ao dever de reparar o dano moral causado”.

Na situação julgada em Uberaba, mediante provas orais, foi constatada que colegas de trabalho chamavam o recorrente de “mostro e doidão”, e ainda conforme as declarações de testemunhas, os fatos se vinham por conta de alguns exames que o reclamante vinha fazendo para a cabeça.

Por conta disso, o magistrada entendeu que o empregado sofria e por isso compensação do dano moral sofrido. Conforme a sentença, o juiz levou em conta para decretar a penalidade final confições financeiras das partes, bem como caráter pedagógico, fixada em 15 mil reais. Porém a condenação foi mantida pelo Tribunal amenizando o valor da indenização para R$ 5 mil.

'Bolsa-academia' contra obesidade

 

Para reduzir sobrepeso, que atinge 13,8% dos jovens mineiros, estado inicia em abril programa que prevê repassar a academias R$ 50 mensais por aluno. Objetivo é atender 14 mil pessoas
Patricia Giudice

Diante de números que apontam crescimento do sobrepeso entre adolescentes, surge em Minas Gerais uma espécie de "bolsa-academia". A partir de abril, jovens de 10 a 19 anos que estiverem acima do peso e sendo atendidos pelo Programa Saúde da Família poderão ter a atividade física custeada pelo governo. Para ter uma dimensão do problema, dados da Secretaria de Estado de Saúde mostram que, em 2010, 13,8% dos mineiros nessa faixa etária tinham o Índice de Massa Corporal (IMC) acima do recomendado. Em 2012, eram 15,1%. No Brasil, de acordo com o último Vigitel – pesquisa do Ministério da Saúde feita por inquérito telefônico –, 21,7% dos meninos e 19% das meninas estavam acima do peso em 2008/2009.

Desde o início do ano, prefeituras e academias estão sendo cadastradas para acolher os novos alunos no projeto Geração Saúde, desenvolvido pelas secretarias de estado de Esportes e de Saúde. A mensalidade será de R$ 50, paga pelo estado. Um total de 78 academias já se inscreveram no estado. Para ser beneficiado, o jovem precisa comparecer no mínimo três vezes por semana à academia e a presença será confirmada por meio de biometria.

A ideia é que ele seja avaliado constantemente e obtenha resultados positivos ao final de 18 meses. Inicialmente, são 14 mil vagas para este ano, gasto estimado em R$ 10 milhões. Eles poderão fazer qualquer atividade oferecida pela academia a partir de avaliação do educador físico, ou seja, além de musculação, terão acesso a atividades como spinning, hidroginástica, natação e jump, entre outras.

Interessado em atender a região onde está a L&F Academia, no Bairro Novo Riacho, em Contagem, na Grande BH, o preparador físico, professor e sócio-proprietário Fabrício Santos Araújo fez o cadastro do estabelecimento, mas não sabe se poderá participar. Segundo ele, o PSF não abrange todas as famílias que estão na região e, por isso, pode ser que não atenda o público do projeto. "A nossa expectativa é receber entre 50 e 80 alunos a mais", afirmou.

EXPECTATIVA Ainda assim, os profissionais da academia pensam em atendimentos diferenciados para os adolescentes. Além do programa individualizado para a prática de atividades físicas, eles planejam formar grupos de ginástica coletiva. A mensalidade cobrada na L&F está em torno de R$ 70, dependendo das modalidades e frequência, e atende uma média de 300 alunos por ano.

Já Gleiciene Lúcia Marques, proprietária da Atenas Academia Hidrofitness, no Bairro Céu Azul, Região da Pampulha, em Belo Horizonte, contou que soube do projeto por meio do Conselho Regional de Educação Física. Ela se cadastrou e montou uma nova unidade da academia no ano passado para receber os novos alunos. Mas a estrutura montada ainda não foi usada e ela ficou desanimada. "Providenciei a documentação, mas não foi de interesse da prefeitura na época. Agora, estamos esperando para ver se o projeto vai para a frente, mas perdi um pouco o interesse", afirmou. A expectativa era de captar mais 100 alunos em uma região que, segundo ela, tem muita demanda.

Combate ao sedentarismo

De acordo com o subsecretário de Esportes, Adenilson Souza, o projeto Geração Saúde surgiu da necessidade de fazer os jovens serem mais ativos, tirá-los do sedentarismo, diminuir os índices de obesidade e ainda prevenir que eles tenham tantas doenças crônicas no futuro. Antes, o incentivo estava focado no projeto Saúde na Praça, em que eram montadas academias ao ar livre para os jovens se exercitarem.

Mas, em 2011, segundo ele, a secretaria identificou que os adolescentes não aderiam ao espaço, que tinha um tempo limitado de uso. "E começamos a pensar formas de levar o jovem para onde tem mais profissionais de educação física trabalhando, onde ele possa ter acesso a atividades aeróbicas diversas, até chegarmos à proposta atual", explicou. Além de ir à academia, o jovem deve participar também de atividades com psicólogos e nutricionistas. Se não tiver 75% da frequência, ele será reavaliado e pode perder a vaga.

A diretora de Promoção à saúde em agravos não transmissíveis da Secretaria de Estado da Saúde, Daniela Souza Lima Campos, diz que, além do sobrepeso, a intenção é trabalhar outros fatores de risco que aparecem tipicamente na adolescência, como tabagismo e álcool. No total, 291.331 adolescentes são acompanhados nos postos de saúde do estado.

PALAVRA DE ESPECIALISTA:

ALINE CRISTINE SOUZA LOPES, professora do departamento de nutrição da UFMG

"Essa é uma idade esquecida"

"O principal desafio é fazer com que os pais levem esses adolescentes aos centros de saúde para que o excesso de peso seja diagnosticado e que o acompanhamento continue após a infância. Essa é uma idade esquecida. A pediatra é uma especialidade difundida, mas poucos recorrem ao hebiatra, que é importante porque tem formação mais ampla, como em sexualidade. Acho que toda iniciativa é válida e vejo o projeto (Geração Saúde) como de cunho emergencial diante do quadro que estamos vivendo, mas a escola deve ser o caminho para incentivar a alimentação saudável e a atividade física. A educação física, por exemplo, hoje é negligenciada, não tem mais objetivo, rigor, ocorre uma vez por semana, sendo que a necessidade é praticar exercícios pelo menos três vezes por semana."
 


 

Vítima de assédio moral será indenizada em R$ 20 mil

 
 
 
Uma empregada da Ricardo Eletro - empresa varejista de eletrodomésticos - receberá R$ 20 mil por ter sido vítima de assédio moral praticado por suas superiores hierárquicas.
Na ação proposta, a auxiliar administrativa afirmou ter sido perseguida na empresa em que trabalhou por quase dois anos. Explicou que, durante o vínculo, sofreu exagerada cobrança profissional, com jornadas extenuantes. Afirmou, também, que diariamente era humilhada, principalmente por suas duas superiores, que a chamavam de "jumenta" e "burra", além de ser xingada com palavrões e expressões de baixo calão.
Ao ouvir as testemunhas, o juiz de primeira instância se convenceu da veracidade das acusações, ante a consistência das declarações feitas por três empregadas da mesma empresa. De acordo com os depoimentos, afirmou o magistrado, uma delas afirmou que "já presenciou a Sra. Joelma chamando a reclamante de "burra", "retardada", sendo que o adjetivo "'incompetente" era o mais leve que Sra. Joelma proferia". Segundo essa mesma testemunha, a outra supervisora se referia a todas as empregadas como "porcas" e usava outras expressões de baixo calão.
A sentença foi confirmada nos tribunais superiores, que mantiveram, inclusive, o valor da indenização.
Com informações do Tribunal Superior do Trabalho.
 
Ônus da prova
Empregador deve provar que não houve assédio moral

Por Jomar Martins

A dificuldade de provar que o assédio moral causou danos à saúde do trabalhador, justamente por se tratar de uma conduta que não se apresenta de forma clara, é motivo para que o ônus da prova seja invertido — desde que as alegações sejam verdadeiras, conforme o artigo 6º, inciso VIII, do Código de Defesa do Consumidor. Com este entendimento majoritário, a 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul reformou sentença para reconhecer dano moral sofrido por uma copeira que trabalhou no Hospital Regina, de Novo Hamburgo (RS).

Para conceder os R$ 5 mil de reparação moral, o colegiado considerou que a copeira foi ridicularizada num momento em que retornara da licença para tratamento de depressão. Apesar disso, a turma também considerou que a testemunha indicada pelo empregador não presenciou as situações de abuso que pesam contra a chefe.

Os desembargadores entenderam que a situação trazida aos autos extrapolou o razoável, ofendendo diretamente os direitos de personalidade do indivíduo. Estes são assegurados nos artigos 1º, inciso III, 3º, inciso IV; e 5º, inciso X, da Constituição; na Convenção nº 111, da Organização Internacional do Trabalho; no artigo 11 e seguintes do atual Código Civil; e na Lei 9.029/95.

Ônus da prova

O relator do recurso, desembargador Alexandre Corrêa da Cruz, afirmou no acórdão que o assédio é uma conduta negativa que não pode ser descrita por um só ato, já que assume formas inimagináveis. ‘‘A agressão não é aberta, não é direta; é sub-reptícia. Às vezes, consiste em um simples olhar carregado de ódio ou de desprezo. Suspiros, dar de ombros, demonstrando indiferença para com aquilo que a vítima diz ou faz’’, citou.

Diante disso, o relator afirmou que competia ao empregador provar a inexistência do assédio, numa aplicação supletiva do artigo 6º, inciso VIII, do Código de de Defesa do Consumidor. Esta diretiva do ônus da prova, segundo ele, tende a sofrer significativa mudança, já que a União Europeia firmou acordo entre os seus membros aprovando a inversão na hipótese de assédio sexual.

‘‘Na mesma direção trilhou o legislador francês, na lei que coíbe o assédio moral no trabalho. Admite-se a inversão do ônus da prova, revertendo para o agressor o encargo de provar a inexistência do assédio, na medida em que o autor da ação já tenha apresentado elementos suficientes para permitir a presunção de veracidade dos fatos narrados na petição inicia’’, encerrou. O acórdão é do dia 7 de fevereiro.

O caso

Na ação, a copeira afirma que durante o período em que trabalhou no hospital — de novembro de 2008 a fevereiro de 2012 — submetida a humilhações, pressão exacerbada e constrangimento por parte de sua chefe. O objetivo, segundo a autora, seria desestabilizá-la no ambiente de trabalho para forçá-la a pedir dispensa.

A funcionária afirmou ainda que chegou a sofrer ameaça de demissão em função de três faltas não-justificadas e que usufruiu de benefício previdenciário para tratamento de depressão. Na reclamatória trabalhista, com reconhecimento de rescisão indireta do contrato de trabalho, pediu o pagamento das verbas rescisórias de praxe e indenização de 10 salários-mínimos, a título de danos morais.
No juízo de primeira instância, o juiz Volnei de Oliveira Mayer, da 3ª Vara do Trabalho de Novo Hamburgo, afirmou na sentença que a comprovação de dano moral independe de produção de prova específica. ‘‘Seria uma demasia, algo até impossível, exigir que a vítima comprove a dor, a tristeza ou a humilhação através de depoimentos, documentos ou perícia’’, escreveu.

Entretanto, o juiz considerou que, para que ocorra o direito à indenização por danos morais, é preciso provar o fato delituoso, o nexo de causalidade e a culpa do empregador — o que não foi feito pela autora da ação. ‘‘Não vislumbro, no presente caso, tenha a reclamante sofrido pressão de seus superiores hierárquicos no intuito de forçá-la a pedir demissão, de modo a lhe causar abalo moral e situações constrangedoras em face da cobrança por parte da chefe, capaz de ensejar a indenização por dano moral.’’
 


Arquivo mostra elo entre comércio de escravos e riqueza de ingleses

 
Pesquisa disponibiliza documentos inéditos com valores e nomes de donos de escravos que foram beneficiados com indenizações públicas após a abolição

Por Maurício Hashizume

Além do retorno financeiro obtido pelo próprio negócio da escravidão transatlântica (que funcionava de modo bastante similar ao de uma bolsa de valores dos dias de hoje), “investidores” privados da venda de pessoas ainda foram recompensados com grandiosas indenizações do governo inglês quando da abolição legal.

Dados tornados públicos a partir desta quarta-feira (27/02) em um arquivo na internet disponível para consulta revelam que quantias equivalentes a bilhões de libras esterlinas foram transferidas dos cofres públicos para “empreendedores” escravagistas, ou seja, muitas das fortunas de hoje estão diretamente ligadas à abolição da escravidão.




Base de dados está disponível para consulta no endereço http://www.ucl.ac.uk/lbs/ (Foto: Reprodução)


Pelos cálculos dos responsáveis pela pesquisa – centralizada na University College, de Londres –, nada menos que um quinto da riqueza dos britânicos da Era Vitoriana guardava relação com a escravidão. Entre os beneficiados, encontram-se, por exemplo, parentes do atual primeiro-ministro inglês, David Cameron, do Partido Conservador, assim como familiares do escritor George Orwell.

“Ao focalizar os proprietários de escravos, o nosso objetivo não é ‘nomear para envergonhar’ ['naming and shaming', na expressão em inglês]. Buscamos desfazer o esquecimento: a ‘re-relembrar’, como diz Toni Morrison, reconhecer as formas pelas quais os frutos da escravidão fazem parte da nossa história coletiva – incorporado em nosso país, nas casas de nossas cidades, nas instituições filantrópicas, nas coleções de arte , nos bancos comerciais e nas pessoas jurídicas, nas estradas de ferro, e nas formas que continuamos a pensar sobre raça”, explica Catherine Hall, pesquisadora-chefe da iniciativa, em artigo publicado no diário inglês The Guardian. “Proprietários de escravos se envolveram ativamente na reconfiguração decorrida após a escravidão, popularizando novas legitimações para a desigualdade que permanecem até hoje como parte do legado do passado colonial da Grã-Bretanha”, emenda.

O arquivo reúne 46 mil pedidos de “indenização” encaminhados por ex-donos de escravos ao governo britânico. São registros detalhados que, conforme descreve Catherine, “foram mantidos longe de todos aqueles que reivindicavam compensações” e que nunca tinham sido sistematicamente estudados antes. De acordo com ela, os documentos consistem em uma “nova luz” para se entender “como o negócio da escravidão contribuiu de forma significativa para a Grã-Bretanha tornar-se a primeira nação industrial”. O esforço de pesquisa vai de encontro, segundo a historiadora, ao desejo de homens e mulheres que almejavam que suas identidades como proprietários de escravos fossem esquecidas.

A exposição das entranhas políticas, econômicas e culturais da escravidão antiga se dá no mesmo contexto em que se fortalece um movimento nos países do Caribe (com Barbados à frente) que reivindica, junto aos governos das nações colonizadoras, formas de compensação pelos profundos danos causados pela exploração do comércio transatlântico de vidas humanas ao conjunto de ex-colonizados. Para a responsável pela pesquisa, o trabalho, que dá contornos mais palpáveis à dívida da “moderna” Grã-Bretanha com a escravidão “antiga”, tem o objetivo de contribuir “para uma compreensão mais rica e mais honesta das histórias conectadas do império”.


 

Marcação a ferro, prática recorrente nas antigas formas de escravidão (Foto: Reprodução)