quinta-feira, abril 26, 2012

OPOSIÇÃO E MÍDIA CONTRA A COMPLETA ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA NO BRASIL

HOJE O STF TERMINA DE JULGAR AS COTAS
A época da escravatura é relativamente recente no Brasil. Faz bem menos que um século e meio. Ainda não houve tempo para as brutais diferenças econômicossociais naturalmente desaparecerem. Assim, sistema de cotas nas universidades e outras medidas de diminuição das diferenças sociais e raciais no Brasil são urgentes e necessárias por uma ou duas gerações. Ainda não se pode largar injustiçados contra privilegiados em competições de luta feroz, em igualdade de condições, ao critério do Deus Mercado. Depois de atingidos níveis aceitáveis de igualdade de acesso à saúde, à educação (pelo menos), esses mecanismos de correção de injustiças passadas poderão ser eliminados].............................................................. ................................ ELAS "ESTIMULARIAM O ÓDIO RACIAL E REBAIXARIAM AS UNIVERSIDADES", MAS, COMO NO SÉCULO 19, ERA TUDO LOROTA........................................................... ......................................... Por Elio Gaspari “O Supremo Tribunal Federal julgará hoje a constitucionalidade das cotas para afrodescendentes e índios nas universidades públicas brasileiras. No palpite de quem conhece a Corte, o resultado será de, pelo menos, sete votos a favor e quatro contra. Terminará, assim, um debate que durou mais de uma década e, como outros do século 19, expôs a retórica de um pedaço do andar de cima que via na iniciativa o prelúdio do fim do mundo. Em 1871, quando o Parlamento discutia a “Lei do Ventre Livre”, argumentou-se que, libertando-se os filhos de escravos condenava-se as crianças ao desamparo e à mendicância. "Lei de Herodes", segundo o romancista José de Alencar.
Quatorze anos depois, tratava-se de libertar os sexagenários. Outro absurdo, pois significaria abandonar os idosos. Em 1888, veio a Abolição (a última de país americano independente), mas o medo a essa altura era menor, temendo-se, apenas, que os libertos caíssem na capoeira e na cachaça.
Como dizia o Visconde de Sinimbu: "A escravidão é conveniente, e mesmo um bem para o escravo". A votação do projeto foi acelerada pelo clamor provocado pelo linchamento de um promotor que protegia negros fugidos no interior de São Paulo. Entre os assassinos, estava James Warne, vulgo "Boi", um fazendeiro americano que emigrara depois da derrota do Sul na Guerra da Secessão. As cotas seriam coisa para inglês ver, "lumpenescas propostas de reserva de mercado". Estimulariam o ódio racial e baixariam a qualidade dos currículos das universidades. Como dissera o barão de Cotegipe, "brincam com fogo os tais negrófilos". Os cotistas seriam incapazes de acompanhar as aulas.
Passaram-se dez anos, pelo menos 40 universidades instituíram cotas para afrodescendentes e, hoje, há milhares de negros exercendo suas profissões graças à iniciativa. O fim do mundo ficou para a próxima. Para quem acha que existe uma coisa como ditadura dos meios de comunicação, no século 21, como no 19, todos os grandes órgãos de imprensa posicionaram-se contra as cotas. Ressalve-se a liberdade assegurada aos articulistas que as defendiam. Julgando a constitucionalidade das iniciativas das universidades públicas que instituíram as cotas, o Supremo tirará o último caroço da questão. No memorial que encaminharam na defesa do sistema, os advogados Márcio Thomaz Bastos, Luiz Armando Badin e Flávia Annenberg começaram pelos números: "Em 2008, os negros e pardos correspondiam a 50,6% da população e a 73,7% daqueles que são considerados pobres. (...) Em 1997, 9,6% dos brancos e 2,2% dos pretos e pardos de 25 ou mais idade tinham nível superior". E concluíram: "A igualdade nunca foi dada em nossa história. Sempre foi uma conquista que exigiu imaginação, risco e, sobretudo, coragem. Hoje, não é diferente". O senador Demóstenes Torres, campeão do combate às cotas, chegou a lembrar que a escravidão era uma instituição africana, o que é verdade, mas não foram os africanos que impuseram a escravatura ao Brasil. Nas suas palavras: "Não deveriam ter chegado aqui na condição de escravos, mas chegaram...." Hoje, o Supremo virará a última página da questão. Ninguém se lembra de James Barne, mas Demóstenes será lembrado por outras coisas.” FONTE: escrito por Elio Gaspari na “Folha de São Paulo” (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/39187-hoje-o-stf-julgara-as-cotas.shtml) [Imagens do google adicionadas por este blog 'democracia&política'. Postagem por sugestão do leitor Probus]

quarta-feira, abril 25, 2012

Cultura de (in) Segurança

O jornal O Globo publicou hoje na seção de defesa do consumidor (http://oglobo.globo.com/economia/defesa-do-consumidor-lojas-tem-que-garantir-seguranca-4369713) artigo sobre a responsabilidade dos lojistas com relação à segurança de seus clientes. É de grande importância que notícias como esta sejam divulgadas para que a cultura de segurança ganhe espaço na nossa sociedade. A fiscalização é importante, mas mais importante é que haja uma cultura disseminada de forma que não fiquemos dependendo da ações corretivas. Abaixo estão algumas situações que encontramos e que são preocupantes. Em todos estes casos é fácil identificar um descompromisso com a segurança. Escadas obstruídas, caixa de mangueira sem mangueira, brinquedos expostos reduzindo a passagem em escada, etc. Que fique claro que na ocorrência de um acidente com vítimas, os responsáveis por estes locais estarão sujeitos a serem condenados por crime culposo, devido a negligência na gestão do local.

Segurança: Segurança Pessoal, principais cuidados.

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terça-feira, abril 24, 2012

Reis da polêmica Descobertas arqueológicas trazem novas e controversas visões da Bíblia. O reino de Davi e Salomão foi um império glorioso ou um vilarejo?

por Robert Draper Fonte: NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL Sentada em um banco na Cidade Velha de Jerusalém, a mulher de rosto de lua cheia, toda agasa-lhada no outono gelado, come uma maçã enquanto examina a construção que lhe trouxe fama e dissabores. Não parece bem uma construção, pois são apenas algumas paredes baixas de pedra ao lado de um antigo muro de arrimo terraceado de 20 metros de altura. Mas, como a mulher é arqueóloga e essa é a sua descoberta, seus olhos veem o que pode ser imperceptível a outros. Ela vê a posição do edifício, em uma escarpa na parte norte da Cidade Velha de onde se avista abaixo o vale de Kidron, em Jerusalém, e imagina: é um mirante ideal para observar um reino. Visualiza os carpinteiros e pedreiros fenícios que erigiram a obra no século 10 a.C. E também os babilônios que a destruíram quatro séculos depois. Acima de tudo, imagina o homem que ela supõe ter encomendado e ocupado o edifício. Seu nome era Davi. Essa, ela declarou ao mundo, é muito provavelmente a casa mencionada no Livro 2 de Samuel: "Hirão, rei de Tiro, enviou [...] carpinteiros e pedreiros, que edificaram uma casa a Davi. Reconheceu Davi que o Senhor o confirmara rei sobre Israel, e que exaltara o seu reino por amor do seu povo". O nome da mulher é Eilat Mazar. Mastigando e olhando, ela é a calma em pessoa, até que aparece um guia turístico. É um moço israelense acompanhado de um punhado de turistas que se plantam diante do banco para ver a construção. Assim que ele abre a boca, Eilat já sabe o que virá - o guia, ficamos sabendo, é seu ex-aluno de arqueologia. Traz turistas ao local e lhes diz, com toda a convicção, que aquele NÃO é o palácio de Davi e que todo o trabalho arqueológico na cidade de Davi não passa de um oportuno expediente dos israelenses de direita para expandir suas reivindicações territoriais na região e, com isso, desalojar palestinos. De repente, Eilat se levanta de chofre e vai pisando duro até o guia turístico. Passa-lhe um sabão, metralhando-o no ritmo staccato da língua hebraica. Ele, passivamente, só a olha. Os turistas fitam-na, boquiabertos, até que ela vai embora furiosa. "É preciso ser muito forte", murmura Eilat enquanto anda. "Parece que todo mundo quer destruir o que a gente faz." A arqueóloga entra no carro. "Essa tensão me deixa doente", comenta, com ar abatido. "Está encurtando a minha vida." Em nenhuma outra parte do mundo a arqueologia lembra tanto uma rixa de dois times arquirrivais. E uma das razões disso é Eilat Mazar. Quando ela anunciou em 2005 que provavelmente havia descoberto o palácio do rei Davi, foi como se fizesse veemente defesa de uma proposição da velha escola de arqueologia que está sob ataque há mais de um quarto de século: a ideia de que a descrição bíblica do império fundado por Davi e levado adiante por seu filho Salomão é historicamente exata. A contundente declaração de Eilat deu força àqueles cristãos e judeus do mundo todo para quem o Antigo Testamento pode e deve ser interpretado ao pé da letra. Seu pretenso achado tem um impacto ainda mais forte em Israel, onde a história de Davi e Salomão é entrelaçada às reivindicações históricas dos judeus à bíblica Terra de Sião. De acordo com a Bíblia, um jovem pastor chamado Davi, da tribo de Judá, mata o gigante Golias, um filisteu da tribo inimiga. Davi é ungido rei de Judá após a morte de Saul, em fins do século 11 a.C., conquista Jerusalém, une o povo de Judá às tribos israelitas dispersas no norte e funda uma dinastia real que continua com Salomão durante boa parte do século 10 a.C. Mas, embora a Bíblia diga que Davi e Salomão transformaram o reino de Israel em um império poderoso e influente que se estendia do Mediterrâneo ao rio Jordão, de Damasco a Negev, há um probleminha: os arqueólogos, depois de procurar exaustivamente por décadas, não encontraram nenhum indício confiável de que Davi ou Salomão tenham construído qualquer coisa. Foi então que Eilat tocou sua trombeta. "Ela sabia o que estava fazendo", afirma seu colega arqueólogo, o israelense David Ilan. "Entrou nessa briga decidida a causar polêmica." Ilan duvida que Eilat tenha encontrado o palácio de Davi. "Minha intuição me diz que é uma construção do século 8 ou 9", diz ele. Ou seja, erigida no mínimo 100 anos depois da morte de Salomão, em 930 a.C. Críticos vão além e questionam os motivos de Eilat. Ressaltam que suas escavações foram financiadas por duas organizações, a Fundação Cidade de Davi e o Centro Shalem, dedicadas a reivindicar direitos territoriais para Israel. E zombam porque ela usa os métodos antiquados de antepassados arqueólogos, como os do avô, que não se constrangia em trabalhar com a pá numa mão e a Bíblia na outra. A prática antes comum de usar o livro sagrado como guia arqueológico é contestada por ser um raciocínio circular, anticientífico - e quem mais se empenha contra ela é o questionador-mor da Universidade de Tel-Aviv, Israel Finkelstein, que dedicou a carreira a demolir estrondosamente hipóteses desse feitio. Ele e outros proponentes da "baixa cronologia" afirmam que o peso das evidências arqueológicas em Israel e seu entorno indica que as datas postuladas pelos estudiosos da Bíblia estão antecipadas em um século. As construções "salomônicas" escavadas por arqueólogos bíblicos ao longo de várias décadas recentes em Hazor, Gezer e Megiddo não foram erigidas no tempo de Davi e Salomão, argumenta ele; portanto, devem ter sido construídas por reis da dinastia Omride, no século 9 a.C., bem depois do reinado de Salomão. Na época do rei Davi, segundo Finkelstein, Jerusalém não era mais que um "vilarejo rural num morro", Davi era um joão-ninguém que emergiu como chefe militar pelos mesmos talentos do mexicano Pancho Villa, e sua legião de seguidores estava mais para um bando de "500 pessoas empunhando paus, berrando e cuspindo" - nada dos grandes exércitos com carros descritos no texto. "É claro que não estamos olhando para o palácio de Davi!", explode Finkelstein só de ouvir falar na descoberta de Eilat. "Tenha a santa paciência. Tudo bem, eu respeito seus esforços. Gosto dela, é uma senhora simpática. Mas essa interpretação é, como direi?, um tanto ingênua." Agora, porém, é a teoria de Finkelstein que está no paredão. Logo depois que Eilat declarou ter descoberto o palácio do rei Davi, dois outros arqueólogos revelaram achados notáveis. Trinta quilômetros a sudoeste de Jerusalém, no vale de Elah - justamente onde a Bíblia diz que o jovem pastor Davi matou Golias -, o professor Yosef Garfinkel, da Universidade Hebraica, afirma ter escavado o primeiro trecho de uma cidade judaica datada da época exata em que Davi reinou. Enquanto isso, 50 quilômetros ao sul do mar Morto, na Jordânia, um professor da Universidade da Califórnia em San Diego, Thomas Levy, passou os últimos oito anos escavando uma grande mina e fundição de cobre em Khirbat en Nahas. Segundo Levy, um dos mais importantes períodos de produção de cobre nesse sítio foi no século 10 a.C. - época em que, segundo a narrativa bíblica, os edomitas, antagonistas de Davi, ocupavam a região (estudiosos como Finkelstein, todavia, garantem que o reino de Edom surgiu apenas dois séculos depois). A própria existência de uma mina e fundição de cobre dois séculos antes do período em que o grupo de Finkelstein aponta como o do surgimento dos edomitas indicaria que havia atividades complexas bem no tempo em que Davi e Salomão reinaram. "É possível que isso tenha pertencido a Davi e Salomão", analisa Levy sobre sua descoberta. "Porque a escala da produção de metal aqui é, de fato, a de um Estado ou reino antigo." Levy e Garfinkel, cujas pesquisas são subvencionadas pela National Geographic Society, baseiam suas afirmações em uma profusão de dados científicos, entre eles fragmentos de cerâmica e datação por radiocarbono de caroços de azeitona e tâmara encontrados nos sítios. Se as evidências de suas atuais escavações se sustentarem, a posição dos peritos de outrora que apontavam a Bíblia como um relato preciso da história de Davi e Salomão pode ser confirmada. Como diz Eilat Mazar com visível satisfação: "É o fim da escola de Finkelstein". Uma rodovia movimentada, a Rota 38, cruza a estrada milenar que segue pelo vale de Elah em direção ao mar Mediterrâneo. Sob as colinas, dos dois lados da estrada, jazem as ruínas de Socó e Azeca. Segundo a Bíblia, os filisteus acamparam nesse vale, entre as duas cidades, pouco antes de seu fatídico encontro com Davi. O lendário campo de batalha hoje é tranquilo, atapetado de trigo, cevada, amendoeiras e videiras, sem falar no punhado de terebintos, uma árvore nativa (chamada de elah em hebraico), que empresta seu nome ao vale. Uma pequena ponte na Rota 38 passa sobre o arroio de Elah. Ônibus turísticos fazem uma parada estratégica nesse local para que os passageiros desçam pelo vale e possam pegar uma pedra. Ela será levada para casa e exibida aos amigos: essa rocha é do lugar em que Davi matou Golias! "Mas talvez Golias nunca tenha existido", argumenta Yosef Garfinkel em seu carro, passando pela ponte a caminho de seu sítio arqueológico, o Khirbet Qeiyafa. "A história diz que Golias vinha de uma cidade gigantesca, e de tanto ser contada, século após século, acabou que o próprio Golias virou um gigante. É uma metáfora. Os estudiosos modernos querem que a Bíblia seja exata como uma enciclopédia. Mas 3 mil anos atrás não se escrevia nenhuma história dessa maneira. Era à noite, em volta da fogueira, que se começavam narrativas como a de Davi e Golias." Sob o semblante calvo e erudito de Garfinkel e de seu delicado senso de humor - que revela alguns espinhos quando o assunto é Finkelstein - espreita um homem de inconfundível ambição. Ele ficou sabendo, por um zelador do Departamento de Antiguidades de Israel, que um muro megalítico de 3 metros de altura se erguia próximo ao arroio de Elah. E iniciou meticulosas escavações no local em 2008. Esse muro, Garfinkel descobriu, é do mesmo tipo dos encontrados nas cidades de Hazor e Gezer, no norte - uma casamata de duas paredes com uma câmara no meio - e circundava uma cidade fortificada de 2,3 hectares. Habitações privadas confinavam com os muros da cidade, uma configuração não encontrada na sociedade filistina. Depois de remover a camada superior do solo, Garfinkel encontrou moedas e outros artefatos do tempo de Alexandre, o Grande. Sob essa camada helenística, achou construções esparsas e quatro caroços de azeitona cuja datação indicou serem de aproximadamente 1000 a.C. Garfinkel também encontrou uma antiga assadeira para fazer pão pita, com centenas de ossos de boi, cabra, ovelha e peixe, mas nenhum osso de porco. Em outras palavras, judeus, e não filisteus, devem ter vivido ali. Como a equipe do arqueólogo também topou com um achado raríssimo, um caco de vasilha de cerâmica com inscrições que parecem ser em uma escrita protocananeia contendo verbos característicos do hebraico, a conclusão lhe pareceu óbvia: ali estava uma complexa sociedade judaica do século 10 a.C, do tipo que os defensores da baixa cronologia, como Finkelstein, afirmam que não existe. E como ela se chamava? Garfinkel chegou à resposta quando descobriu que a cidade fortificada não tinha um portão apenas, mas dois. É o único sítio desse tipo encontrado até hoje nos reinos de Judá e Israel. A tradução de "dois portões" para o hebraico é shaarayim, uma cidade citada três vezes na Bíblia. Uma dessas referências (1 Samuel 17:52) menciona os filisteus fugindo de Davi para Gath pelo "caminho de Saaraim". "Temos Davi e Golias e temos o sítio que encontramos: eles se encaixam", deduz Garfinkel, com segurança. "O sítio é típico da Judeia, desde os ossos de animais até os muros da cidade. Que alguém nos dê então dois argumentos para que seja filistino. Um é que Finkelstein não quer que refutemos a baixa cronologia. Ok. E o segundo argumento, qual seria?" Vejamos uma segunda razão para receber com ceticismo as conclusões de Yosef Garfinkel: ele anunciou-as depressa demais e com estardalhaço, apesar de ter apenas quatro caroços de azeitona para fundamentar sua datação, uma única inscrição bastante ambígua e somente 5% de seu sítio escavado. Em outras palavras, diz o arqueólogo David Ilan, "Yosef tem interesses - tanto ideológicos quanto pessoais. É muito inteligente e ambicioso. Finkelstein é o galo do terreiro, e os frangotes acham que ele tem o monopólio da arqueologia bíblica. Por isso, querem destroná-lo". Melhor ainda, da perspectiva de outras partes interessadas: quando Finkelstein deixar o trono, o rei Davi voltará a ocupá-lo. Há três milênios o rei Davi persiste, onipresente nas artes, no folclore, nas igrejas e nos homônimos dos registros censitários. Para os muçulmanos, ele é Daoud, o venerado imperador e servo de Alá. Para os cristãos, é o ancestral natural e espiritual de Jesus que, por intermédio dele, herdou o manto messiânico. Para os judeus, é simplesmente o pai de Israel, o rei pastor ungido por Deus, e eles são seus descendentes e o Povo Eleito de Deus. Que ele possa ter sido algo menos que isso, ou apenas um mito, é impensável para muita gente. "Nossa ideia de que somos uma das mais antigas nações do mundo, uma influência fundamental no pensamento da civilização, vem do fato de termos escrito o livro dos livros, a Bíblia", diz Daniel Polisar, presidente do Centro Shalem, o instituto de pesquisa israelense que ajudou a financiar as escavações de Eilat Mazar. "Se tirarmos Davi e seu reino, teremos um livro diferente. A narrativa não será mais histórica, será uma mera obra de ficção. Com isso, pode-se concluir que o resto da Bíblia terá sido apenas um esforço propagandístico para criar algo que nunca existiu. E não sendo possível encontrar evidências é porque provavelmente não aconteceu. Daí a importância colossal do que está em jogo." Os livros do Antigo Testamento que narram a história de Davi e Salomão são escrituras redigidas provavelmente uns 300 anos depois do fato e por autores não muito objetivos. Não existe nenhum texto da própria época para validar o que está escrito neles. Desde o nascimento da arqueologia bíblica, estudiosos se empenham em vão para confirmar que realmente existiram personagens icônicos, como Abraão e um Moisés, ou eventos importantes, como o Êxodo e a tomada de Jericó. Ao mesmo tempo, diz Amihai Mazar, primo de Eilat e um dos mais respeitados arqueólogos de Israel, "quase todos concordam que a Bíblia é um texto antigo relacionado à história deste país durante a Idade do Ferro. Pode ser examinado criticamente, como fazem muitos estudiosos. Apenas não se pode desconsiderar o texto. Ele tem de ser, sim, levado em conta". No entanto, Mazar acrescenta, "não devemos tentar provar que o texto é verdadeiro ao pé da letra". Multidões de arqueólogos dedicam a vida justamente a esse objetivo, a começar pelo controverso americano William Albright, o pioneiro do tema. Entre os apadrinhados de Albright está o titã militar, político e acadêmico Yigael Yadin. Para Yadin e seus contemporâneos, a Bíblia é incontestável. Por isso, quando descobriu os portões da cidade bíblica de Hazor em fins dos anos 1950, Yadin fez uma coisa inaceitável para os procedimentos da arqueologia atual: como a datação por carbono não estava disponível, ele usou a Bíblia, juntamente com a estratigrafia, para datar a cerâmica encontrada portões adentro. Atribuiu esses portões ao celebrado império de Salomão, do século 10 a.C., porque assim está dito no Primeiro Livro dos Reis. O problema em usar como base esse capítulo específico da Bíblia é que ele foi adicionado bem depois da morte de Salomão, em 930 a.C., quando Israel se dividira em duas partes: Judá, no sul, e Israel, no norte. "Gezer era a cidade mais meridional do reino do norte, Israel, enquanto Hazor ficava na parte mais setentrional do reino e Megiddo era um eixo econômico no centro", diz a arqueóloga Norma Franklin, da Universidade de Tel-Aviv. "Por isso, seria importante para as pessoas que escreveram essa história reivindicar o direito a todo esse território. Para Yadin, a Bíblia disse, e ponto final. Três portões - têm de ser todos de Salomão." Hoje muitos estudiosos (inclusive Norma e seu colega Finkelstein) duvidam que todos os três portões sejam salomônicos, enquanto outros (Amihai Mazar, por exemplo) acham que isso é possível. Mas todos rejeitam o raciocínio circular de Yadin, que no começo dos anos 1980 contribuiu para uma reação de "minimalismo bíblico", encabeçada por acadêmicos da Universidade de Copenhague. Para os minimalistas, Davi e Salomão foram simplesmente personagens fictícios. A credibilidade dessa posição foi solapada em 1993, quando uma equipe de escavação no sítio de Tel Dan, no norte de Israel, descobriu uma estela de basalto negro com a inscrição "Casa de Davi". A existência de Salomão, porém, continua carente de comprovação. Sem outras evidências, ficamos apenas com o insípido mundo bíblico do século 10 a.C. proposto por Finkelstein em um artigo de 1996. Não um reino único repleto de construções monumentais, mas uma paisagem agreste abrigando potências díspares em lento crescimento: filisteus no sul, moabitas no leste, israelitas no norte, arameus ainda mais ao norte e, sim, talvez um grupo judaico insurgente liderado por um jovem pastor em uma Jerusalém não tão deslumbrante como imaginamos. Essa interpretação exaspera israelenses para quem a capital de Davi é o alicerce de seu povo. Muitas das escavações em Jerusalém têm financiamento da Fundação Cidade de Davi, cujo diretor de recursos internacionais, Doron Spielman, admite: "Quando angariamos fundos para uma escavação, o que nos inspira é descobrir a Bíblia - e isso está indelevelmente ligado à soberania de Israel". Como seria de esperar, esse objetivo desagrada uma parcela dos residentes de Jerusalém: os palestinos. Muitas escavações são feitas na parte oriental da cidade, que suas famílias ocupam há gerações, mas ainda assim correm o risco de ser desalojadas se esses projetos levarem à instalação de colônias israelenses. Da perspectiva dos palestinos, tanta ânsia por evidências arqueológicas que justifiquem um sentimento de pertencer a um lugar não faz sentido. É mais uma diferença cultural entre os povos, como argumenta o professor Hani Nur el-Din, arqueólogo e residente na parte oriental de Jerusalém. "Quando vejo mulheres palestinas fazendo a tradicional cerâmica do começo da Idade do Bronze, quando sinto o cheiro de pão de taboon, assado conforme a mesma tradição do quarto ou quinto milênio antes de Cristo, penso: isso é que é DNA cultural. Na Palestina não existe documento escrito nem historicismo e, no entanto, tudo é história", diz. A maioria dos pesquisadores israelenses preferiria que seu trabalho não fosse usado como alavanca política. Mas é assim que agem as nações jovens. Como observa o professor de arqueologia Avraham Faust, da Universidade de Bar-Ilan, "os noruegueses basearam-se em sítios vikings para criar uma identidade que os distinguisse de seus conquistadores suecos e dinamarqueses. Zimbábue tem o nome de um sítio arqueológico. A arqueologia é uma ferramenta bastante conveniente para criar identidades nacionais". Nesse aspecto, Israel difere de outros países. Sua identidade nacional nasceu muito antes de qualquer escavação. O que vier a ser descoberto só poderá confirmar sua identidade - ou não. "Isso aqui era um inferno", brinca Tom Levy em uma vala aberta cheia de escória preta. Ao redor do local em que ele está com seus alunos, espraia-se um sítio de 10 hectares onde se produzia cobre. Ao lado, um vasto complexo fortificado que inclui ruínas de casas da guarda de 3 mil anos atrás. Ao que parece, as sentinelas viviam quase em cima da fundição para vigiar uma força de trabalho relutante. "Para uma produção industrial dessa escala, é preciso ter um sistema de abastecimento regular de água e alimentos", prossegue Levy. "Não tenho como provar, mas, na minha opinião, as únicas pessoas que trabalhariam num lugar tão insuportável seriam os escravos - ou então os meus alunos. O que interessa é que simples sociedades tribais não poderiam fazer algo assim." Levy, um antropólogo, desembarcou no sul da Jordânia em 1997 para investigar o papel da metalurgia na evolução social. A baixada do distrito de Faynan, onde as cintilações verde-azuladas da malaquita podem ser vistas de longe, era um lugar óbvio para estudar. Também foi ali que, em 1940, o rabino e arqueólogo americano Nelson Glueck proclamou, impávido, ter descoberto as minas edomitas controladas pelo rei Salomão. Depois disso, escavadores britânicos acreditaram ter encontrado evidências de que Glueck errou por três séculos e que Edom, na verdade, datava do século 7 a.C. Mas, quando Levy começou a escavar o sítio conhecido como Khirbat en Nahas (em árabe, "ruínas de cobre"), as amostras que enviou a Oxford para datação por radiocarbono confirmaram que Glueck estava no caminho certo: era um sítio de produção de cobre do século 10 a.C. E também "a fonte de cobre mais próxima de Jerusalém", acrescenta Levy. A equipe chefiada por Levy e seu colega jordaniano Mohammad Najjar descobriu uma entrada, com quatro câmaras, semelhante às encontradas em sítios israelenses que podem ser do século 10 a.C. A alguns quilômetros das minas, eles escavaram um cemitério de mais de 3,5 mil sepulturas datado do mesmo período. Ali jazem, talvez, os restos mortais de nômades da montanha que viveram na Idade do Ferro e são mencionados em fontes egípcias antigas como Shasu. Levy supõe que eles podem ter sido "acuados e forçados a trabalhar nas minas em determinados períodos". Aparentemente, grande parte do trabalho nas minas cessou em fins do século 9 a.C., e a chamada "camada de interrupção" descoberta pelos alunos de Levy pode explicar por quê. Eles encontraram nessa camada 22 caroços de tâmara e os dataram do século 10 a.C., juntamente com artefatos egípcios como um amuleto de cabeça de leão e um escaravelho, ambos do tempo do faraó Shoshenq I. A invasão da região por esse monarca pouco depois da morte de Salomão é mencionada no Antigo Testamento e no templo de Amon, em Karnak, no Egito. "Acredito que Shoshenq interrompeu a produção de metal aqui no fim do século 10", diz Levy. "Os egípcios do Terceiro Período Intermediário não eram numerosos o bastante para instalar uma força ocupante, e é por isso que não vemos formas de pão egípcias e outros artefatos de sua cultura neste sítio. Mas eles puderam organizar algumas campanhas militares poderosas, fortes o bastante para abalar esses pequenos reinos e garantir que não constituíssem ameaça." O "inferno" que Levy escavou em Khirbat en Nahas pode vir a ser um inferno para a escola da baixa cronologia de Finkelstein. As minas de cobre de Levy talvez não sejam tão sensacionais quanto o palácio do rei Davi ou o mirante com vista para a batalha entre Davi e Golias. Mas as escavações de Levy abrangem mais tempo e área que as de Eilat Mazar e Yosef Garfinkel, e fazem uso bem mais amplo da análise por radiocarbono para determinar a idade das camadas estatigráficas de seu sítio. "Todos os pesquisadores que estudaram Edom nas últimas duas gerações afirmam que ele não existiu como Estado antes do século 8 a.C.", diz Amihai Mazar. "Mas as datações por radiocarbono que Levy obteve contam a própria história. E essa história se relaciona aos séculos 10 a.C. e 9 a.C., e ninguém pode afirmar que ela está errada." No entanto, é justamente isso que fazem os críticos de Levy. Alguns consideram suas primeiras 46 datações insuficientes para reordenar toda uma cronologia para Edom. Para sua segunda rodada de análises por carbono 14, Levy duplicou o número de amostras e selecionou meticulosamente carvão de arbustos com anéis de crescimento externos comprováveis. Apesar do alto custo da análise por carbono 14 - mais de 500 dólares por um único caroço de azeitona -, a técnica não é infalível. "O carbono 14 não ajuda a decidir toda essa controvérsia", prossegue Eilat Mazar. Existe uma margem de erro de aproximadamente 40 anos. Temos diversos laboratórios apresentando diferentes interpretações. Temos debates a toda hora sobre a questão do carbono 14." De fato, Finkelstein e Amihai Mazar andam às turras por causa da datação de um único estrato em Tel Rehov, uma cidade da Idade do Ferro e Bronze logo a oeste do rio Jordão. Mazar afirma que o estrato pode ser salomônico. Finkelstein diz que ele é posterior, do tempo da dinastia Omride, cujo nome provém de Omri, o pai de Ahab. A diferença entre as duas eras é de aproximadamente 40 anos. "Muitas datas obtidas por radiocarbono desse período abrangem exatamente a faixa que está em debate", emenda Amihai Mazar com um sorriso amargo. "Nem antes nem depois. Vem sendo assim há 15 anos." "Com o radiocarbono, é possível encontrar evidências de que Davi foi um aldeão na Noruega no século 6 d.C.!", desafia Israel Finkelstein, exagerando, como de costume, para se fazer entender. "Falando sério: gosto de ler tudo o que Tom escreve sobre Khirbat en Nahas. Ele me dá muitas ideias. Eu mesmo nunca escavaria em um lugar assim, é quente demais! Para mim, arqueo-logia tem de ser prazerosa. Venha a Megiddo - vivemos em uma pensão com ar-condicionado ao lado de uma deliciosa piscina." Ainda assim, as teorias de Finkelstein se encaixam em um interessante caminho do meio entre os literalistas e os minimalistas bíblicos. "Pense na Bíblia como em um sítio arqueológico estratificado", diz ele. "Parte foi escrita no oitavo século antes de Cristo, parte no sétimo e assim por diante até o segundo século. Portanto, 600 anos de compilações. Isso não significa que a história não seja muito antiga. Mas a realidade apresentada na narrativa é posterior. Davi, por exemplo, é uma figura histórica. Ele realmente viveu no século 10 a.C. Aceito as descrições de Davi como uma espécie de líder de grupo insurgente, agitadores que viviam às margens da sociedade. Mas não a cidade de ouro de Jerusalém, não a descrição de um grande império no tempo de Salomão. Quando os autores do texto descrevem isso, têm nos olhos a realidade da própria época, o Império Assírio." "Agora, Salomão", continua ele com um suspiro, "acho que, de certa forma, destruí Salomão. Sinto muito! Mas pegue Salomão você também, analise sua figura, sua presença histórica. Pense na suntuosa visita da rainha de Sabá - uma rainha da Arábia vem conhecê-lo, trazendo os mais variados artigos exóticos a Jerusalém. Essa é uma história impensável antes de 732 a.C., quando teve início o comércio árabe sob o domínio assírio. Pegue a história de Salomão como o grande preparador de cavalos, carros, exércitos numerosos. Você verá que o mundo por trás de Salomão é o mundo do século assírio." Sobre a mina fortificada de Thomas Levy, Finkelstein dispara: "Não engulo essa de que ela é do século 10 a.C. Impossível que pessoas tenham vivido naquele local durante a produção. O fogo, a fumaça tóxica, de jeito nenhum! Em vez disso, pense na fortaleza de En Hazeva, do nosso lado do rio Jordão, construída pelos assírios na estrada principal para Edom. Vejo a construção de Tom como uma fortaleza assíria do século 8, paralela à outra. Aliás, ao fim e ao cabo, o sítio dele é marginal. Não é nenhuma cidade estratificada com muitas eras, como as antigas Megiddo e Tel Rehov. Pegar um monte de escória e fazer dele um centro de discussão de história bíblica - não dá, isso eu rejeito totalmente!" Com mais veneno, Finkelstein zomba das descobertas de Garfinkel em Khirbet Qeiyafa: "Você nunca vai me pegar dizendo ‘achei um caroço de azeitona num estrato em Megiddo, e esse caroço - contrariando centenas de outras datações por carbono 14 - vai decidir o destino da civilização ocidental’". Ele para de falar de repente e solta uma risada sarcástica. E a ausência de ossos de porco, sugerindo que o sítio é judeu? "Um dado, mas não conclusivo." E a inscrição rara encontrada no sítio? "Provavelmente da cidade filistina de Gath, não do reino de Judá." A ironia é que o enfant terrible da arqueologia hoje é a corrente dominante, um Golias rechaçando os ataques dos frangotes a sua ordem cronológica. A hipótese de que uma sociedade complexa do século 10 a.C. possa ter existido nos dois lados do rio Jordão pôs na defensiva a posição de Israel Finkelstein sobre a era de Davi e Salomão. Seus muitos artigos de réplica e seu tom sarcástico refletem essa defensiva, e com argumentos que, não apenas para seus desafetos, muitas vezes parecem apelativos. Ainda assim, mesmo que Yosef Garfinkel prove que a tribo de Judá de Davi residiu na fortaleza de Saaraim, Eilat Mazat documente que o rei Davi mandou erigir um suntuoso palácio em Jerusalém e Tom Levy demonstre que o rei Salomão ordenou a exploração de minas de cobre em Edom, tudo isso não confirma nenhuma gloriosa dinastia bíblica. De certa maneira, a polêmica de fundo bíblico segue aberta. Quanto mais será preciso escavar para decidir o debate? Muitos arqueólogos se perguntam se é sensata essa corrida obsessiva para comprovar a narrativa bíblica. Um deles, Raphael Greel em textos ou em noções preconcebidas da história. Dar uma visão alternativa do passado: as relações entre ricos e pobrenberg, da Universidade de Tel-Aviv, declara sem rodeios: "Isso é ruim para a arqueologia. Devemos contribuir com um ponto de vista que não esteja disponíves, entre homens e mulheres. Em outras palavras, devemos buscar a reconstrução de uma época, algo mais rico do que apenas validar a Bíblia". Mas será que Davi, com todo seu poder metafórico, deixará de ter importância se seus feitos e império acabarem sendo vistos como obras de ficção? Quando argumento com Finkelstein que pessoas no mundo inteiro creem na grandeza de Davi, fico surpreso com a resposta. "Veja bem, quando faço um estudo, preciso distinguir entre o Davi da cultura e o Davi histórico. Davi é extremamente importante para minha identidade cultural. Do mesmo modo, posso celebrar o Êxodo sem considerá-lo um evento puramente histórico. Davi, para mim, é o homem refletido no rei Ezequias, que reinou em uma época posterior; o Davi refletido no rei Josias, também de época posterior; o Davi de Zacarias nas profecias escatológicas em que Jerusalém é incendiada mas ele sobrevive; o Davi que é a ligação com o nascimento do cristianismo. Nesse sentido, digo com segurança: Davi é tudo. Se quiser que eu simplifique, direi que sinto orgulho pelo fato de esse joão-ninguém ter se tornado o centro da tradição ocidental." Finkelstein, o homem que, apesar de tanta admiração, destronou Davi, respira fundo e conclui: "Por isso, para mim, Davi não é nenhuma placa na parede nem mesmo mero líder de um bando do século 10 a.C. Ele é bem mais que isso".

O crime gera cerca de 2.1 trilhões de dólares.

(Reuters) – O crime gera cerca de 2,1 trilhões de dólares em receitas globais anuais, ou 3,6 por cento do Produto Interno Bruto do mundo, e o problema pode estar crescendo, disse um alto funcionário da Organização das Nações Unidas nesta segunda-feira. “Isso torna o negócio criminoso uma das maiores economias do mundo, uma das 20 maiores economias”, disse Yury Fedotov, diretor do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), descrevendo-o como uma ameaça à segurança e ao desenvolvimento econômico. O valor foi calculado recentemente pela primeira vez pelo Banco Mundial e pelo UNODC, com base em dados de 2009, e não há comparações disponíveis, explicou Fedotov em entrevista coletiva. Falando no dia da abertura de uma reunião de uma semana da Comissão Internacional sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, ele sugeriu que a situação pode estar piorando, “mas para corroborar esse sentimento eu preciso de mais dados”. Ele disse que até 40 bilhões de dólares por ano são perdidos devido à corrupção nos países em desenvolvimento e a renda ilícita com o tráfico de pessoas chega a 32 bilhões de dólares por ano. “Segundo algumas estimativas, a qualquer momento, 2,4 milhões de pessoas sofrem a miséria do tráfico de pessoas, um crime vergonhoso de escravidão moderna”, disse Fedotov separadamente em um discurso. Ele também citou uma série de outros crimes que rendem muito dinheiro. O crime organizado, o tráfico ilícito, a violência e a corrupção são “grandes obstáculos” para as Metas de Desenvolvimento do Milênio, um grupo de metas estabelecidas pela comunidade internacional em 2000 para tentar melhorar a saúde e reduzir a pobreza entre as pessoas mais pobres do mundo até 2015, afirmou Fedotov. Os grupos criminosos têm demonstrado “impressionante capacidade de adaptação” às ações policiais e a novas oportunidades de lucro, disse um oficial sênior dos Estados Unidos na reunião em Viena. “Hoje, a maioria das organizações criminosas não tem qualquer semelhança com os grupos familiares hierárquicos de crime organizado do passado”, afirmou o secretário-adjunto, Brian Nichols, de acordo com uma cópia de seu discurso. “Em vez disso, eles consistem de redes soltas e informais, que muitas vezes convergem quando é conveniente e se envolvem em um diversificado leque de atividades criminosas”, explicou Nichols, do Departamento de Narcóticos Internacionais e Reforço da Lei dos EUA. Ele disse que os grupos terroristas, em alguns casos, estavam se voltando para o crime para ajudar a financiar as suas operações: “Há inclusive casos em que os terroristas estão evoluindo para empresários criminosos em seu próprio direito.” www.visaobrasil.tvO crime gera cerca de 2.1 trilhões de dólares. (Reuters) – O crime gera cerca de 2,1 trilhões de dólares em receitas globais anuais, ou 3,6 por cento do Produto Interno Bruto do mundo, e o problema pode estar crescendo, disse um alto funcionário da Organização das Nações Unidas nesta segunda-feira. “Isso torna o negócio criminoso uma das maiores economias do mundo, uma das 20 maiores economias”, disse Yury Fedotov, diretor do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), descrevendo-o como uma ameaça à segurança e ao desenvolvimento econômico. O valor foi calculado recentemente pela primeira vez pelo Banco Mundial e pelo UNODC, com base em dados de 2009, e não há comparações disponíveis, explicou Fedotov em entrevista coletiva. Falando no dia da abertura de uma reunião de uma semana da Comissão Internacional sobre Prevenção ao Crime e Justiça Criminal, ele sugeriu que a situação pode estar piorando, “mas para corroborar esse sentimento eu preciso de mais dados”. Ele disse que até 40 bilhões de dólares por ano são perdidos devido à corrupção nos países em desenvolvimento e a renda ilícita com o tráfico de pessoas chega a 32 bilhões de dólares por ano. “Segundo algumas estimativas, a qualquer momento, 2,4 milhões de pessoas sofrem a miséria do tráfico de pessoas, um crime vergonhoso de escravidão moderna”, disse Fedotov separadamente em um discurso. Ele também citou uma série de outros crimes que rendem muito dinheiro. O crime organizado, o tráfico ilícito, a violência e a corrupção são “grandes obstáculos” para as Metas de Desenvolvimento do Milênio, um grupo de metas estabelecidas pela comunidade internacional em 2000 para tentar melhorar a saúde e reduzir a pobreza entre as pessoas mais pobres do mundo até 2015, afirmou Fedotov. Os grupos criminosos têm demonstrado “impressionante capacidade de adaptação” às ações policiais e a novas oportunidades de lucro, disse um oficial sênior dos Estados Unidos na reunião em Viena. “Hoje, a maioria das organizações criminosas não tem qualquer semelhança com os grupos familiares hierárquicos de crime organizado do passado”, afirmou o secretário-adjunto, Brian Nichols, de acordo com uma cópia de seu discurso. “Em vez disso, eles consistem de redes soltas e informais, que muitas vezes convergem quando é conveniente e se envolvem em um diversificado leque de atividades criminosas”, explicou Nichols, do Departamento de Narcóticos Internacionais e Reforço da Lei dos EUA. Ele disse que os grupos terroristas, em alguns casos, estavam se voltando para o crime para ajudar a financiar as suas operações: “Há inclusive casos em que os terroristas estão evoluindo para empresários criminosos em seu próprio direito.” www.visaobrasil.tv

A batalha pela alma do kung fu

No legendário templo Shaolin, na China, discípulos de um mestre de kung fu encaram as mudanças no mundo das artes marciais por Peter Gwin NATIONAL GEOGRAPHIC BRASIL O mestre passa seu último dia de vida envolto em uma colcha costurada pela esposa, sua respiração rascante e irregular dominando o espaço exíguo do quartinho. Ao longo daquele dia frio de primavera, um fluxo de visitantes deságua na pequena cidade de Yanshi, no sopé das montanhas Song, para render homenagem a Yang Guiwu em seu leito de morte. Ele é o homem que lhes ensinou o kung fu. Alguns envergam hábitos de monge e distribuem bênçãos ao entrar na casinha de tijolos. A mulher do mestre, de cabelo branco bem penteado, espalma os ombros de cada recém-chegado como se fosse um irmão de sangue e o admite cozinha adentro, para além do fogareiro de brasas ardentes, para se juntar aos familiares e outros discípulos reunidos ao pé da cama de seu marido. A esposa debruça-se sobre ele para anunciar um visitante especial, o último discípulo que o mestre acolheu no âmbito de sua família kung fu, 15 anos antes. "É Hu Zhengsheng", diz ela. De abrigo esportivo e calçando as tradicionais sapatilhas de pano, Hu, hoje um espadaúdo homem de 33 anos, inclina-se sobre a criatura encarquilhada. "Shifu", fala ele baixinho, respeitoso, empregando o termo mandarim para "professor". "O senhor está me ouvindo?" Pálidas e finas feito papel de arroz, as pálpebras do velhinho tremem. Por um instante, suas pupilas parecem se fixar no rosto do jovem, antes de se dispersarem. Foram muitas as vezes em que o mestre contou a Hu como acordava de sonhos nos quais seus antepassados nas artes marciais, monges do templo Shaolin há muito falecidos, vinham visitá-lo. Eles traziam a sabedoria amealhada ao cabo de séculos por muitas gerações de homens cujos pés vincaram as lajes do salão de treinamento da instituição e cujos ossos estão agora enterrados na floresta do Pagode, do lado de fora das muralhas do templo. Eram esses os monges que dedicaram a vida ao aperfeiçoamento dos estilos do kung fu, com nomes do tipo "punho de flor de ameixeira" ou "palma da mão do pato mandarim", cada qual uma sinfonia de movimentos, com variações sobre como empurrar músculos e ossos em direção a seus limites. Ou para além deles, diria alguém. Talvez até, cogita Hu, esses ancestrais estejam agora rodeando o mestre. Os avançados discípulos do mestre veem uma ironia no fato de que os pulmões do velho o estejam traindo ultimamente. Ele teria aprovado mais esse giro na roda da vida, uma lição terminal de humildade ao homem que os instruiu sobre o papel fundamental da respiração no aproveitamento da chi, ou força vital, de cada um. Era a primeira coisa que ele ensinava: respirar "pelo umbigo", expirar pelo nariz, de forma constante, controlada, em harmonia com as batidas do coração e com o ritmo dos outros órgãos. Aprender a respirar certo, dizia ele, era o passo inicial no árduo caminho que leva as pessoas a se conectar com seu manancial de força chi, abrindo dessa maneira uma das portas ocultas do universo.
Kung-fu: Monge Shaolin pratica kung-fu no alto do monte Fritz Hoffmann Agora, com ou sem espíritos invisíveis a seu lado, Yang Guiwu aguarda diante de outra porta oculta do universo. Os discípulos ouvem na respiração dele os sinais de que ele está tentando reunir sua força vital para a jornada a sua frente. A cerca de 19 quilômetros de onde o velho mestre jaz, em um vale logo depois das montanhas Song, ônibus de turismo preparam-se para regurgitar sua carga diária de visitantes do templo Shaolin. Todo mundo quer ver o berço da maior lenda do kung fu na China. Foi bem ali que um místico indiano do século 5 ensinou aos monges uma série de exercícios, ou formas, que imitava o movimento de animais. Os monges adaptaram as formas à defesa pessoal e, mais tarde, as modificaram, tendo em vista a guerra. Seus descendentes aperfeiçoaram essas "artes marciais" e as utilizaram pelos 14 séculos seguintes em incontáveis batalhas contra déspotas inimigos, sufocando rebeliões e repelindo invasores. Muitos desses feitos se acham anotados em lousas de pedra no templo, ornando também narrativas que datam da dinastia Ming (1368-1644). Os estudiosos descartam grande parte desses relatos como lendas costuradas com alguns elementos de realidade. As artes marciais a mão livre existiram na China muito antes do século 5 e provavelmente foram trazidas a Shaolin por ex-soldados em busca de refúgio. Durante longos períodos de sua história, o templo era essencialmente um Estado afluente, dispondo de um bem treinado Exército. Quanto mais os monges combatiam, melhores lutadores se tornavam e maior ficava sua fama. Todavia, eles não eram imbatíveis. O templo foi saqueado repetidas vezes ao longo de sua existência. O golpe mais devastador veio em 1928, quando um senhor da guerra vingativo incendiou a maior parte do prédio, inclusive sua biblioteca. Séculos de pergaminhos que detalhavam a teoria e o treinamento do kung fu, bem como tratados da medicina chinesa e escrituras budistas, acabaram destruídos. A transmissão do legado do kung fu de Shaolin passou a se dar apenas de mestre para discípulo, por homens como Yang Guiwu. Hoje, porém, as autoridades do templo parecem mais interessadas em consolidar a marca de Shaolin do que em restaurar sua alma. Durante a última década, Shi Yongxin, o monge-mor de 45 anos de idade, ergueu um império internacional de negócios que inclui excursões de trupes de kung fu, projetos para TV e cinema, uma loja on-line de chás e sabonetes com a marca Shaolin e templos franqueados no exterior. Além disso, muitos dos homens de cabeça raspada e hábitos monásticos que operam as numerosas caixas registradoras do templo admitem não serem monges de verdade, e sim empregados vestidos a caráter. Bebendo chá em seu escritório, o sereno Shi sustenta que todos esses esforços servem para disseminar o budismo. "Fazemos com que mais pessoas conheçam o zen-budismo e promovemos a nossa cultura", diz ele. Com seu olhar melancólico, o homem tem o talento do político para dar a impressão de que acredita no que está dizendo. Esse é um argumento que Shi tem repetido muitas vezes, tanto na imprensa chinesa quanto na mundial, e ele nem é o primeiro monge-mor a enfrentar a crítica de que Shaolin busca riquezas em vez de iluminação. Em todo caso, quer seja uma instituição evangelizadora, quer seja apenas lucrativa, o templo Shaolin ajudou a deflagrar uma inegável renascença do kung fu, a qual coincidiu com a própria emergência da China como potência mundial. Em nenhum outro lugar isso é mais evidente do que em Dengfeng, uma cidade de 650 mil habitantes, a apenas 10 quilômetros dos portões do templo. Cerca de 60 academias de artes marciais surgiram ali nas últimas duas décadas, com mais de 50 mil alunos. As maiores situam-se ao longo da avenida principal, erguendo-se feito cassinos em Las Vegas, com dormitórios em arranha-céus que ostentam murais que exibem lutadores de kung fu, dragões e tigres. Essas academias preenchem suas vagas com garotos e um número crescente de meninas, vindos de todas as províncias e classes sociais, com idades que vão dos 5 aos 30 anos. Alguns chegam com a esperança de se tornar estrela de cinema ou atingir a glória como kickboxer. Outros vêm para adquirir habilidades que lhes garantirão empregos no Exército, na polícia ou em empresas de segurança. Uns poucos são enviados pelos pais para aprender disciplina e a trabalhar duro. Durante seis dias por semana, 11 meses por ano, as academias despertam bem cedo, animadas por legiões de alunos vestidos com abrigos esportivos e dispostos em fileiras bem alinhadas, a praticar kung fu. Olhares fixos à frente, costas eretas, eles golpeiam com mãos e pés em uníssono, suas vozes pontuando o ar matinal ao repetir as cadências ordenadas pelo instrutor. Alguns dias antes de visitar seu mestre moribundo, Hu Zhengsheng atendeu a um telefonema que muitos praticantes de artes marciais passam a vida ansiando receber. Era um produtor de Hong Kong que oferecia a ele o papel principal em um filme de kung fu. É fácil entender o porquê do convite: Hu tem um belo rosto de garoto e projeta uma confiança adquirida através de anos a se testar física e mentalmente. No entanto, ele não tem certeza se vai aceitar. Hu não concorda com a maneira pela qual o kung fu costuma ser retratado nos filmes: uma celebração de violência que ignora os princípios disciplinares de moralidade e respeito pelo oponente. Sem contar seu medo de cair nas armadilhas da fama. Seu mestre exortava-o a permanecer humilde, mesmo quando Hu superou os demais alunos. A humildade derrota o orgulho, pregava Yang. O orgulho derrota o homem. Por outro lado, o papel no cinema traria publicidade e dinheiro, coisas tão necessárias a sua pequena academia de kung fu. Com a bênção de seu mestre, Hu fundou a escola há oito anos na periferia de Dengfeng. Ao contrário das grandes academias, que privilegiam a parte acrobática do kung fu e o kickboxing, Hu ensina a seus 200 garotos - e algumas garotas - as formas antigas do Shaolin que lhe foram passadas por Yang Guiwu. Mas a luta não é a lição mais importante do kung fu, explica Hu. O foco é a honra. As habilidades que ele transmite a seus pupilos vêm com uma responsabilidade. Ele espera de cada um respeito e disposição de "engolir o amargor", aprendendo a conviver com a adversidade usando-a para disciplinar a vontade e forjar o caráter. À noite seus alunos dormem em quartos sem aquecimento. Sob qualquer temperatura, eles treinam ao ar livre, em geral antes do nascer do sol. Esmurram troncos de árvore para enrijecer as mãos e praticam agachamentos com outro aluno montado em seus ombros para desenvolver força nas pernas. Durante os exercícios, os treinadores usam bastões de bambu para sapecar os tendões de quem não fizer os movimentos com perfeição ou cujo esforço é considerado insuficiente. Quando lhe pergunto se um tratamento tão severo não poderia criar alunos injuriados, Hu sorri: "Eles estão engolindo o amargor. E entendem que isso os torna melhores". O problema de Hu é menos perder alunos do que recrutar novos interessados, de maneira a arcar com as despesas da escola. Muitos dos garotos vêm de famílias pobres, e o mestre só cobra deles a comida. Aos poucos, porém, ele se curvou às novas tendências no ensino e passou a oferecer cursos de kickboxing e de formas acrobáticas de kung fu, na esperança de atrair novos pupilos, para depois dirigi-los às formas tradicionais. Pela própria experiência, Hu sabe que a ideia de um garoto sobre o kung fu pode mudar com seu amadurecimento. Quando jovem, ele era obcecado por filmes de luta marcial, sorvendo as performances de Bruce Lee e Jet Li, dois dos mais famosos astros desse tipo de cinema, e vivia fantasiando vinganças contra os valentões de sua aldeia. Aos 11 anos, conseguiu cavar sua admissão ao templo Shaolin, onde virou ajudante do treinador de uma das trupes performáticas. Mais tarde, esse homem o apresentou a Yang Guiwu. "Quando encontrei Yang, eu já havia memorizado muitas formas tradicionais", conta Hu. "Mas ele me ensinou a teoria por trás das formas. Por que você deve mover sua mão de uma certa maneira. Por que seu peso deve recair sobre determinada parte de seu pé." Ele levanta-se para demonstrar isso. Um golpe de mão, explica Hu, é disparado como um lance de xadrez, antecipando uma gama de possíveis contragolpes. "Seja lá como meu oponente responder, estarei preparado para bloquear seu golpe e disparar um segundo, um terceiro e um quarto ataque, cada qual direcionado a um ponto de pressão." Ele faz a pantomima dos movimentos em câmera lenta. "Um aluno pode aprender isso em um ano", afirma Hu. "Mas fazer assim" - suas mãos e seus cotovelos viram um borrão ao repetir o movimento a toda velocidade - "leva muitos e muitos anos." A diferença, ensina ele, está em realizar os movimentos sempre de forma instintiva, despachando cada golpe com precisão e força máxima, sem sacrificar o equilíbrio. "Não há pontapés voadores ou acrobáticos", garante ele. Tais movimentos expõem pontos vulneráveis. "Shaolin é pensado para o combate, não para entreter plateias. É difícil convencer a garotada a empenhar muitos anos aprendendo algo que não os tornará ricos ou famosos." Ele parece absorto nesse pensamento: "É dessa maneira que os estilos tradicionais vão se perder". Um garoto vestido com a roupa cinza-claro da escola surge à porta do escritório para relatar que um aluno torceu a canela. Quando Hu chega ali para ver o que acontecera, o aluno, machucado, já havia retomado os exercícios, rilhando os dentes enquanto esmurrava um saco de pancadas. Hu meneou a cabeça com satisfação de professor: "Ele está aprendendo a engolir o amargor". Quando a notícia da iminente morte do mestre Yang chega a seu mais enigmático aluno, ele está no topo isolado de um monte acima do templo Shaolin. Shi Dejian, um monge budista de 47 anos, vem de uma semana bem dura. Primeiro, uma equipe de televisão trilhou o caminho vertiginoso na montanha para chegar ao monastério. Com ela veio um lutador profissional de diversas artes marciais, com a missão de testar suas habilidades contra os monges. (Ele voltou machucado para casa.) Depois, um grupo de neurologistas de Hong Kong apareceu para estudar o efeito do rigoroso regime de meditação de Shi sobre sua atividade cerebral. Em seguida, ele passou uma noite exaustiva aplicando suas técnicas chi para aplacar as dores de um amigo doente. E eis que uma autoridade do Partido Comunista de Suzhou irrompe portão adentro solicitando a cura da diabetes de seu irmão. Para um homem que busca a solidão, Shi anda afogado em gente. Ele deve essa procissão de estrangeiros em grande parte aos videoclipes veiculados na internet em que ele aparece demonstrando as formas de Shaolin, em geral se equilibrando no topo em agulha de precipícios ou no teto de seu pagode, encravado na face de um penhasco, a um pequeno passo em falso de uma queda fatal de mais de 100 metros. Os clipes, filmados por visitantes ao longo dos anos, espalharam-se por sites de kung fu e de medicina chinesa, chamando atenção à filosofia segundo a qual uma vida saudável gira em torno dos princípios de chan (meditação zen), wu (artes marciais) e yi (medicina herbal). São esses os mesmos princípios na raiz do pensamento que norteia o templo Shaolin, afirma Shi Dejian. Embora ele não o diga, são também os mesmos princípios que os muitos críticos do templo, dentro e fora da China, afirmam terem sido negligenciados em benefício dos negócios. A mensagem de suas performances desafiando a morte tem a ver, parece, com a autenticidade da sua filosofia: quando você pratica o verdadeiro chan wu yi, torna-se possível esse tipo de coisa. Cara a cara, Shi parece uma espécie de elfo da montanha, com seu 1,60 metro de altura e uma sólida carapaça muscular. Ele enverga um manto de lã e um chapéu em estilo mongol e prefere falar quando está em movimento, replantando uma muda de cedro ou catando folhas de dente-de-leão para uma salada. Suas risadas constantes sugerem um espírito mais moleque que devoto. O caminho que o levou a esse pico das montanhas Song teve início em 1982, quando, aos 19 anos, e já um prodígio do kung fu, Shi deixou a casa de sua família, não longe da fronteira mongol, para empreender uma peregrinação ao templo Shaolin. Sua busca por professores desse estilo de luta levou-o a Yang Guiwu, e ele logo se distinguiu como o melhor aluno do mestre. Quanto mais aprendia sobre o kung fu, mais se interessava por suas interseções com a meditação e a medicina chinesa. Por fim, resolveu tomar os votos monásticos no templo Shaolin. Com as multidões de turistas se expandindo no início dos anos 1990, Shi passou a buscar cada vez mais o recolhimento, acampando perto das ruínas de um pequeno templo em um pico nas proximidades. Os monges mais velhos, desolados pela expansão dos empreendimentos comerciais de Shaolin, o encorajaram a transformar o antigo local em um retiro focado no chan wu yi. Shi recrutou pedreiros para cortar blocos de granito das rochas enquanto ele e seus discípulos içavam sacos de cimento e telhas. Aos poucos, foram transformando o templo carcomido em um complexo de pagodes que parece escalar a encosta granítica íngreme da montanha. O lugar evoca uma calma meditativa, com bolsões de neblina enclausurados ao longo da crista da serra. Shi e seus discípulos cultivam pequenos bambuzais e terraços plantados com vegetais e ervas. Eles seguem uma dieta vegetariana e colhem flores, musgos e raízes para confeccionar remédios contra tudo, de picadas de insetos a problemas de fígado. As pessoas vêm de toda parte da China em busca de tratamento para diversas enfermidades. Em geral, elas querem cuidar apenas dos sintomas, conta Shi, mas "chan wu yi trata da pessoa como um todo. Quando ela fica saudável, os sintomas desaparecem". Ele costuma se levantar às 3h30 para meditar. Depois, Shi pratica técnicas respiratórias destinadas a reforçar a chi. Houve um tempo em que ele gastava seis horas ou mais, todos os dias, praticando as formas tradicionais do kung fu. Agora, porém, Shi se vê impulsionado pelas mesmas forças que estão remodelando o templo Shaolin. Ele atende a pedidos de palestras, levanta fundos para finalizar a construção de seu templo, treina seus discípulos e, é claro, dá conta da enxurrada de visitantes - tudo isso competindo por sua atenção e energia. "Mas estou sempre praticando kung fu", garante ele, apanhando minha mão para pousá-la sobre seu imenso quadríceps. Posso sentir a pulsação que imprime ao músculo. Daí, ele move minha mão para a sua panturrilha batatuda. Mais pulsação. "Faço isso o dia inteiro", conta Shi, explicando como incorpora os movimentos de kung fu em todas as atividades diárias, desde arrancar ervas daninhas até escalar montanha. Não seria o kung fu violento em sua essência, pergunto-lhe, e será que isso não contradiz os princípios de não violência do budismo, como o conhecemos no mundo ocidental? Não, como explica ele, já que o fundamento do kung fu é a conversão de energia em força. Na ausência de um adversário, a prática consiste em uma série de movimentos. As fragilidades físicas e mentais do próprio praticante tornam-se seus adversários. Às vezes o adversário não está distante. Nem todo mundo que sobe a montanha é amigo, e Shi já sobreviveu a atentados contra a sua vida. Anos atrás, ao ir para casa por uma trilha íngreme, quatro homens o emboscaram tentando jogá-lo para fora de uma saliência rochosa. Eles tinham avançadas habilidades de kung fu, mas Shi rapidamente os repeliu. Esse é um assunto que ele prefere não discutir, mas o incidente é confirmado por outras pessoas. "As montanhas Song estão cheias de rivalidades envolvendo o kung fu", conta-me uma autoridade de Dengfeng, "do mesmo jeito que tem sido há séculos." Na última manhã que passo em seu retiro, Shi mostra-me suas dependência privadas, uma exígua cúpula de pedra empoleirada na ponta de um íngreme penhasco. Ele me conduz até um terraço com vista para o profundo vale em forma de cuia, acarpetado de espessas florestas de pinheiros. Uma frente fria está em atividade, e sua grossa pelerine agita-se atrás dele. Sem aviso, Shi salta para a mureta baixa que bordeja o bico do penhasco, a ventania inflando sua pelerine, que se alvoroça toda sobre o vazio a suas costas. "Está com medo?", pergunta-me, ao ver a minha cara. "Kung fu não é só treinar o corpo. É também controlar a mente." Como uma pluma, Shi saltita com leveza de um pé para o outro, estocando, esmurrando, girando, sempre a centímetros de uma pavorosa queda. Seus olhos arregalam-se quando ele se concentra. O manto encapela-se e farfalha ao vento gelado. "Você não pode derrotar a morte", proclama o mestre, sua voz alçando-se acima da ventania. Ele lança um pé ao abismo, equilibrando-se em apenas uma de suas pernas troncudas. "Mas você pode derrotar seu medo da morte." Pouco depois de Hu Zhengsheng visitá-lo em seu leito, Yang Guiwu passa para a outra vida. Dezenas de alunos juntam-se a seus familiares na pequena casa em Yanshi. Shi Dejian chega com dois de seus discípulos. Alguns alunos de Hu demonstram sequências de kung fu. O assobio seguido de explosões de fogos de artifício enchem os ares, alertando o mundo dos espíritos da chegada do mestre. Um trio de flautistas encabeça o cortejo fúnebre para fora da cidade, em direção ao campo de trigo da família, onde o mestre será enterrado ao lado de seus parentes e em meio ao verde reluzente do trigo. Enquanto caminhamos atrás do caixão, Hu ainda matuta se deve ou não aceitar o papel no filme de kung fu. Seria desrespeitoso, assim, tão em cima da morte do mestre. No entanto, ele já discutiu o assunto com alguns de seus discípulos, que o encorajaram a aceitar. Isso significa que uma parte de Yang Guiwu sobreviveria na performance de Hu e, quem sabe, inspiraria outros praticantes. Afinal de contas, como lembraram seus alunos, foram justamente os filmes de kung fu que coduziram Hu até o mestre. A roda da vida completou o seu ciclo, como diria o falecido shifu.

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segunda-feira, abril 23, 2012

NÃO É LULA “OU” DILMA; É LULA “E” DILMA

Datafolha segunda-feira, 23 de abril de 2012 “A matéria da ‘Folha’ sobre a pesquisa que aponta recorde de popularidade da presidenta Dilma Rousseff aposta no delírio que anda tomando conta da nossa mídia. “A presidente Dilma Rousseff bateu mais um recorde de popularidade, mas seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, é o preferido dos brasileiros para ser o candidato do PT ao Planalto em 2014. Esse é o resultado principal da pesquisa Datafolha realizada nos dias 18 e 19 deste mês com 2.588 pessoas em todos os Estados e no Distrito Federal” Como assim, “mas”? Há alguma característica de disputa – aberta ou velada – entre ambos, pela sucessão? “Como a curva de popularidade positiva de Dilma tem sido ascendente desde o início, o Datafolha incluiu, desta vez, uma nova pergunta no levantamento sobre a eleição de 2014 -'quem deveria ser o candidato do PT a presidente: Dilma ou Lula?' As respostas foram bem mais favoráveis a Lula. Ele é o predileto de 57% dos brasileiros para disputar novamente o Planalto daqui a dois anos e meio. Outros 32% citam Dilma. Para 6%, nenhum dos dois deve concorrer. E 5% não souberam responder. A presidente Dilma vem tem tendo curva crescente de popularidade e pode reduzir essa desvantagem em relação a Lula se mantiver essa trajetória”, diz Mauro Paulino, diretor do Datafolha.” Ficou claro? O Divide et impera é tão velho quanto a história. Só os tolos se deixam levar por ele, porque só os tolos creem nos elogios do inimigo e se conduzem pela ambição e pela inveja. Quando Lula escolheu Dilma como candidata a sua sucessão, não se pense que ele tenha feito isso como tolo. Ao lado da capacidade administrativa, o que o conduziu à escolha foi a fidelidade de Dilma, mais que a ele, ao projeto de mudança que seu governo representou. Sabia que Dilma iria ao poder para exercê-lo numa direção e essa direção comum é a garantia de que a identidade de propósitos supera – e quase sempre supera - pequenas vaidades ou ambições a que um ser humano está sujeito. Por isso, o resultado mais importante da pesquisa, ao contrário de ser o de se "tantos ou quantos por cento preferem Dilma ou preferem Lula como candidato", é outro. É que Dilma e Lula seguem sendo – e com muito mais folga – imbatíveis na preferência popular. Que só 5% dos brasileiros acham ruim o governo de Dilma, continuidade do Governo Lula. O resultado mais importante está escondidinho, tanto que agora refaço o post para incluí-lo, pois escapou da primeira leitura da edição digital: “O segundo turno da eleição presidencial não foi assim um passeio para Dilma Rousseff. A candidata do PT teve 56,05% nas urnas contra 43,95% do adversário do PSDB, José Serra. O Datafolha investigou o que ocorreria se a mesma disputa se desse agora. Aí sim Dilma venceria por larga margem, com 69% contra 21% de Serra. Se esse hipotético embate se repetisse, 6% dos eleitores não votariam nem em Serra nem em Dilma. Outros 4% se declararam indecisos.” Ou seja, mais de dois terços dos brasileiros, agora que se reduziram as manipulações da imprensa pró-Serra que acenavam com um terror “abortista” e “corrupcionista” com Dilma, apoiam a linha de governo que o ex-presidente e a atual presidenta representam. Porque, no essencial, agora como há um ano e meio, nas eleições, Lula é Dilma e Dilma é Lula. E enquanto for assim – e nada autoriza a pensar que não é e será – a direita está num mato sem cachorro.” Por Brizola Neto FONTE: escrito por Brizola Neto em seu blog “Tijolaço” (http://www.tijolaco.com/datafolha-nao-e-lula-ou-dilma-e-lula-e-dilma/)

JULGAMENTO DE SERRA ESTÁ NA FILA, NA FRENTE DO 'MENSALÃO'

"Seria compreensível se a velha imprensa cobrasse celeridade do Judiciário como um todo. Mas causa estranheza quando, em ano eleitoral, essa velha imprensa só bate o bumbo sobre o processo do chamado "mensalão". Por que, então, não cobrar o julgamento também do processo que José Serra responde por atos praticados ainda no governo FHC e que se arrasta até hoje? Em termos de réus ilustres, supera o chamado "mensalão", e em termos de valores também, além de ser bem mais antigo, pois se arrasta desde 2003. Não é um processo qualquer. Trata-se do rombo no Banco Econômico, socorrido com R$ 3 bilhões no âmbito do PROER, quando Serra era ministro do planejamento. São réus também, praticamente, toda a equipe econômica do governo FHC, incluindo o ex-ministro Pedro Malan, ex-ministro e banqueiro Ângelo Calmon de Sá e os ex-presidentes do Banco Central Gustavo Loyola e Gustavo Franco. A juíza Daniele Maranhão Costa, da 5ª Vara da Seção Judiciária do Distrito Federal, acatou a denúncia apontando dano ao erário, enriquecimento ilícito e violação aos princípios administrativos no caso. Note-se que Serra é o candidato mais célebre das eleições de 2012, e a celeridade no julgamento seria uma oportunidade para o tucano sair inocentado, ou para o eleitor saber se estará votando em alguém condenado em primeira instância. O processo corre no TRF1-DF, e os detalhes da ação estão aqui, íntegra: (http://processual.trf1.jus.br/consultaProcessual/processo.php?proc=200334000391407&secao=DF&enviar=Pesquisar) Por Helena Sthephanowitz, especial para a “Rede Brasil Atual”

Segurança nacional: USP exibe simulador do F-18, um dos mais modernos ...

Segurança nacional: USP exibe simulador do F-18, um dos mais modernos ...: A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo exibiu nesta sexta-feira um simulador do caça F-18 Super Hornet, um dos mais modernos...

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Segurança nacional: A volta do Brasil Grande que pensa pequeno Uma vis...: Q ualquer militar com um mínimo de brio não poderá aceitar as afirmações do Dr. Celso Amorim, a maioria delas sem qualquer explicitaçã...

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Segurança nacional: China se prepara para exercícios conjuntos com Rús...: Hoje o cruzador míssil russo “Varyag” entrou no porto chinês de Qingdao, onde no próximo futuro serão esperados navios anti-submarinos ...

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Segurança nacional: EUA concentram armas e munições em Israel: Segundo os dados do Congresso dos EUA, o exército norte-americano aumentou vertiginosamente o volume dos armamentos, munições e materia...

sexta-feira, abril 20, 2012

EXÉRCITO VAI ADOTAR FUZIL DESENVOLVIDO NO BRASIL

TIPO SUBSTITUI BELGA USADO DESDE 1964 “O Exército começará em 2012 a substituir seus fuzis FAL pelo modelo IA2, desenvolvido e fabricado no Brasil. A nova arma deve também equipar a Marinha, a Aeronáutica e as polícias militar e civil, além de ser exportado. O FAL, de fabricação belga, é usado desde 1964, e boa parte das cerca de 150 mil unidades está velha e defasada. "Em vez de substituir [os fuzis] por outros FAL, seria melhor ter uma arma mais moderna", disse o general Sinclair Mayer, chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. A opção mais barata seria comprar lotes de fuzis importados, como o americano AR-15 ou o russo Kalashnikov. Mas o Exército optou por desenvolver tecnologia própria, para não depender de suprimentos estrangeiros. A Indústria de Material Bélico do Brasil, que fabrica tanto o FAL como o IA2, não divulga o valor do novo fuzil. Só diz que ele terá preço competitivo. Segundo Mayer, a indústria tem capacidade para produzir até 30 mil fuzis por ano em sua fábrica em Minas, mas o ritmo da substituição dependerá da verba liberada pelo Ministério da Defesa.” Por Luis Kawaguti, na ‘Folha’ FONTE: reportagem de Luis Kawaguti, na ‘Folha de São Paulo’ (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/poder/17493-exercito-vai-adotar-fuzil-desenvolvido-no-brasil.shtml) [imagem do Google adicionada por este blog ‘democracia&política’].

Polícia comunitária

Polícia comunitária torna Nicarágua referência de segurança pública para vizinhos Apesar de pobre, país tem a menor taxa de homicídios da região: 13 para cada 100 mil habitantes A existência ou não de uma relação direta entre pobreza e criminalidade há décadas divide governantes e especialistas dos mais diversos matizes políticos. A falta de uma resposta definitiva para a questão torna ainda mais intrigante o caso da Nicarágua. Como é possível que um dos países mais pobres do continente americano possa manter níveis de violência tão baixos, deter o avanço de fenômenos que assombram os países vizinhos, como o crime organizado e o narcotráfico, e evitar a proliferação e organização das chamadas maras (gangues juvenis)? Em junho do ano passado, essa pergunta permeou os debates na Conferência Internacional em apoio à Estratégia de Segurança Regional. Na ocasião, representantes do Sistema de Integração Centro-Americana (Sica) e de organismos multilaterais latino-americanos parabenizaram publicamente a Polícia Nacional nicaraguense pelos resultados obtidos na prevenção e investigação de crimes. "A resposta a essa pergunta deve ser buscada no fato de que somos uma instituição muito jovem e na implementação de um modelo profundamente relacionado com nossa origem e com a história recente do país", explicou ao Opera Mundi Miriam Martha Torres, chefe da Secretaria Executiva da Polícia Nacional da Nicarágua. No que se refere à luta contra a delinquência comum (assassinatos, crime organizado e narcotráfico), a Nicarágua é uma exceção na América Central. "Conseguimos reverter o índice delitivo demográfico, chegando a 13 homicídios por 100 mil habitantes. É um resultado importante se comparamos com os números de Honduras (78), El Salvador (69) e Guatemala (42)", explicou Torres. Segundo dados do PNUD (2010), a média regional chega a 35 homicídios e o número latino-americano é 26. Em termos globais, 29% dos homicídios acontecem em Honduras, 27,7%, na Guatemala e 18,6%, em El Salvador. A Nicarágua representa apenas 3,7% dos homicídios da região, e isso apesar de ter o índice de forças policiais mais baixo: apenas nove agentes policiais por 100 km², em comparação, por exemplo, com os quase 100 por km² de El Salvador. Durante quase meio século, a ditadura dos Somoza (1934-1979) atribuiu à sangrenta Guarda Nacional as funções próprias do Exército e da Polícia. Quando a luta revolucionária conseguiu derrotar a ditadura (1979), foi preciso desmontar o sistema existente e criar um novo. "A nova Polícia foi formada em meio ao processo revolucionário, com a participação e o envolvimento direto dos combatentes e de outros setores da população rebelada. Ou seja, surgiu diretamente do povo e continua mantendo suas raízes", lembra Torres. Miriam envolveu-se muito jovem no processo de luta armada contra a ditadura e foi ferida gravemente apenas dois meses antes do triunfo da revolução. Passou quase um ano recuperando-se dos ferimentos e, em 1980, com apenas 16 anos, integrou-se à nova instituição. "Nossa Polícia surgiu das entranhas do povo. Não houve convocação, chamados nem academia para que se aprendesse o trabalho. Homens, mulheres, jovens, todos nos integramos à tarefa, muitas vezes por disciplina partidária. Era um fermento de emoções para construir algo novo que, com o tempo, foi se estruturando e profissionalizando, mas sem perder sua relação constante com as pessoas, com as comunidades", afirmou a comissária. Prevenção Segundo as autoridades nicaraguenses, o modelo de polícia "preventivo, proativo e comunitário" não poderia existir sem um vínculo profundo com a população. De acordo com as estatísticas oficiais da Polícia, são mais de 100 mil as pessoas que, de maneira voluntária, apoiam ativamente o trabalho preventivo em todo o território nacional. Com o Decreto 16-2007, foram criados os CSCs (Conselhos de Segurança Cidadã), instâncias de coordenação entre a Polícia, o Estado e os cidadãos. "Atualmente, contamos com o apoio direto de 25 mil membros dos Comitês de Prevenção Social do Delito, mais de 76 mil membros dos Gabinetes do Poder Cidadão e 9.000 jovens voluntários. Na zona rural, contamos também com 1.300 integrantes dos Comitês Distritais, com mais de 1.000 policiais voluntários e 3.900 promotoras contra a violência familiar. Um verdadeiro exército que respalda este modelo", explicou Torres. Além disso, dedica-se especial atenção aos jovens. "Todo mundo se pergunta por que na Nicarágua não existe o problema da mara. Para nós, trata-se de uma problemática ligada à exclusão social, e a solução que adotamos é a prevenção por meio da inclusão dos jovens", afirmou a primeira-comissária Aminta Granera (foto abaixo), chefe da Polícia Nacional recentemente reconfirmada no cargo pelo presidente Daniel Ortega, fato inédito na história recente da Nicarágua. A prevenção voltada à juventude nicaraguense tem três abordagens: a primeira para evitar que os jovens em geral se envolvam em delitos; a segunda, para tratar de dissuadir os delitos com grupos de risco; e a terceira com ações destinadas a evitar a reincidência dos adolescentes que cumprem medidas sócio-educativas ou são privados da liberdade. Foi constituída a Direção de Assuntos Juvenis para trabalhar nos centros pré-escolares e nas escolas primárias e secundárias. "Isso mostra a ação da Polícia como parte da comunidade, em harmonia com seu sentir e viver. Nós atuamos em, desde, para e com a comunidade", argumentou Granera. Ao longo dos últimos anos, este modelo permitiu a promoção de um trabalho preventivo direto com mais de 250 mil jovens, que a cada ano conseguiu desmobilizar e reinserir na vida social mais de 500 jovens membros de bandos juvenis (pandillas). Durante a inauguração do Centro de Formação e Desenvolvimento Juvenil "Juventud", que dará atenção e capacitação em carreiras técnicas e profissionais a 200 jovens em risco e a ex-membros de pandillas, Granera explicou que este é o resultado de um esforço que conjuga o espírito desta Polícia, a sensibilidade social do governo, a sintonia da sociedade civil com o modelo e a generosidade da cooperação internacional. "Com este Centro, tratamos de nos aproximar dos jovens em situação de delito ou de risco, não para puni-los, e sim para lhes abrir espaço para sua regeneração e sua formação. Não se trata de acompanhá-los na prisão, e sim na educação", afirmou Granera diante de centenas de jovens emocionados com a oportunidade que lhes era oferecida. Gênero Outro eixo do modelo policial nicaraguense é a luta contra a violência de gênero ou familiar. "Abrimos mais Delegacias de Mulheres em todo o país, o que permitiu aumentar para mais de 100 mil as mulheres atendidas a cada ano", disse Miriam Martha Torres. Além disso, foram capacitadas 200 mil pessoas na função da reivindicação do direito da mulher, e se fortaleceu o modelo de atenção com a introdução das Delegacias Móveis, os órgãos de defesa itinerantes, as comissões comunitárias de prevenção da violência familiar, assim como a adoção do modelo único de informe psicossocial e a capacitação de 4 mil promotoras voluntárias. O enfoque de gênero é algo que caracteriza o próprio corpo policial. "Atualmente, mais de 35% do efetivo policial é representado por mulheres. Ocupamos 26% dos postos principais da hierarquia de comando", disse a comissária-mor. Narcotráfico Na luta contra o crime organizado e o narcotráfico, o modelo nicaraguense tem sido um exemplo para toda a região. De fato, na Nicarágua não se nota a presença desses fenômenos, tão dramáticos para os demais países, nem o vínculo entre os bandos juvenis e o crime organizado. "Golpeamos o narcotráfico de forma contundente, desarticulando 63 células dos grandes cartéis da droga e abalando suas bases logísticas e econômicas e sua plataforma terrestre, aérea e marítima. Calculamos ter tomado cerca de 2,5 bilhões de dólares", disse Granera. "O verdadeiro desafio, agora, é continuar a aprofundar o modelo, incentivando ainda mais a relação e o intercâmbio com as comunidades, porque nossa maior legitimidade é a social, aquela que a população nos concede", concluiu Torres. Por: Giorgio Trucchi/Opera Mundi

PROGRAMA ONDE MORA O PERIGO...: DIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

PROGRAMA ONDE MORA O PERIGO...: DIA DO EXÉRCITO BRASILEIRO

quinta-feira, abril 19, 2012

Segurança nacional: O Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC S...

Segurança nacional: O Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC S...: O Grupamento de     O Grupamento de Mergulhadores de Combate (GRUMEC) é uma unidade de Forças Especiais da Mari...

Segurança nacional: Argentina propõe ao Brasil cooperação em Vant e mí...

Segurança nacional: Argentina propõe ao Brasil cooperação em Vant e mí...: Brasília, 17 abr (EFE).- O ministro da Defesa da Argentina, Arturo Puricelli, propôs nesta terça-feira ao Governo brasileiro colaborar ...

Segurança nacional: LAAD 2012 Security: segurança em foco

Segurança nacional: LAAD 2012 Security: segurança em foco: Entre 10 e 12 de abril de 2012, o Pavilhão 4 do Riocentro sediou a LAAD 2012 Security – Feira Internacional de Segurança Pública e Corpor...

Segurança nacional: Avião inovador feito na USP monitora desmatamento ...

Segurança nacional: Avião inovador feito na USP monitora desmatamento ...: Qualquer menino acharia uma diversão trabalhar na oficina de Giovani Amianti. Ele constrói aviões. Faz peças, compra outras, cola tudo,...

quarta-feira, abril 18, 2012

TERRORISMO NO CÓDIGO PENAL

Terrorismo é incluído como crime em anteprojeto do Código Penal Exploração de jogo de azar sem autorização também pode se tornar crime. Comissão discute anteprojeto, que ainda será analisado no Congresso. A comissão de juristas que elabora o anteprojeto de Código Penal a ser discutido no Congresso aprovou nesta sexta-feira (30) o terrorismo e a exploração de jogos de azar sem autorização legal com crimes para o anteprojeto de lei do novo código. O terrorismo é atualmente considerado crime pela Constituição Federal de 1988, mas não está tipificado no Código Penal e, portanto, não há previsão de tempo de pena, por exemplo. A exploração de jogos também não é crime e está na legislação brasileira como contravenção penal, penas mais brandas que geralmente não levam à prisão. O anteprojeto, que está em fase final de elaboração, deve ser entregue até maio ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Ele deve criar uma comissão especial de senadores para discutir o assunto e para que a proposta comece a tramitar na forma de um projeto de lei. saiba mais * Anteprojeto de novo Código Penal vai prever possibilidade de aborto De acordo com o relator do anteprojeto do novo Código Penal, o procurador regional da República da 3ª Região Luiz Carlos dos Santos Gonçalves, a pena prevista para terrorismo será de oito a 15 anos de prisão. Além de tornar crime no Código Penal, o anteprojeto revoga a Lei de Segurança Nacional, que, segundo o relator, a partir de agora se tornou "incompatível". A Lei de Segurança Nacional, de 1983, prevê reclusão de três a dez anos para quem "praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas. [...] Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo." De acordo com a Agência Senado, o anteprojeto afirma que será considerado terrorismo, “causar terror na população” mediante condutas como sequestrar ou manter alguém em cárcere privado; usar, portar ou trazer consigo explosivos, gases tóxicos, venenos, conteúdos biológicos ou outros meios capazes de causar danos; incendiar, depredar, saquear, explodir ou invadir qualquer bem público ou privado; e interferir, sabotar ou danificar sistemas de informática e bancos de dados. Os juristas também consideram a conduta de sabotar o funcionamento ou apoderar-se do controle de comunicação ou de transporte, de portos, aeroportos, estações ferroviárias ou rodoviárias, hospitais, casas de saúde, escolas, estádios, instalações públicas ou locais onde funcionem serviços públicos essenciais, inclusive instalações militares. O presidente da comissão de juristas, o ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) Gilson Dipp, disse que, anteriormente, era contra a tipificação do terrorismo, mas que agora, "os tempos são outros e a responsabilidade é outra". Foi aprovado pela maioria dos juristas o parágrafo que não considera terrorismo condutas individuais ou coletivas de "pessoas movidas por propósitos sociais". Segundo palavras do relator, "a lei não se aplicará a movimentos sociais com meios lícitos". Postado por Prof. Ulisses Nascimento,CES às 20:59:00 Enviar por e-mailBlogThis!Compartilhar no TwitterCompartilhar no FacebookCompartilhar no Orkut

CINCO PECADOS EMPRESARIAIS MORTAIS

Por Alfredo Passos – www.administradores.com.br Há alguns anos, Peter Drucker escreveu um artigo descrevendo os "cinco pecados empresariais mortais*", que levaram muitas empresas a ter sérios problemas estratégicos e financeiros. Sua caracterização desses "pecados" incluía: 1. Adoção de altas margens de lucros e preços excessivos; 2. Dar preço errado a um novo produto cobrando o que o mercado suportar; 3. Determinar preços em função do custo; 4. Destruir a oportunidade de amanhã baseado na alteração de ontem; 5. Alimentar problemas e ignorar oportunidades. De muitas maneiras, estes são os tempos mais difíceis para negócios em uma geração. Todos fomos despertados para a necessidade de olhar para além do conforto de nossas vidas cotidianas, para a necessidade de sintetizar as implicações de eventos externos, incluindo o aumento da concorrência. Isso, por sua vez, leva à necessidade de focar não só na execução, mas na execução sem falhas. Não existe meio-termo, afirma Mittelstaedt Jr. (2006). Segundo esse autor, estudos revelam que, apesar de dados específicos poderem ser diferentes entre setores e situações distintos, os padrões de erros anteriores a acidentes são bastante semelhantes. E ainda reforça: "o aprendizado nem sempre provém das fontes que você espera, com sua própria experiência, seu próprio setor ou empresas muito parecidas. É necessário um pouco mais de esforço, mas você pode aprender mais observando exemplos num setor ou numa situação marcadamente diferentes e reconhecer que há grandes semelhanças nos padrões de ações e de comportamentos". Certas situações parecem evidenciar que o erro estratégico irá causar mais impacto do que se pensa: ■ Eles não sabiam que os clientes iam querer uma substituição de um chip defeituoso? (Intel) ■ Eles não sabem que os clientes costumam ser mais fiéis se você admite um erro e o conserta? (Firestone) ■ Eles não sabiam que a alavancagem financeira e/ou fraude poderia acabar com a empresa? (Enron, WorldCom, HealthSouth) Existem padrões comuns nestes casos, segundo Mittelstaedt Jr.: 1. Um problema inicial, que geralmente seria secundário se fosse isolado, mas que não é corrigido. 2. Um problema subsequente que se une ao efeito do problema inicial. 3. Uma correção ineficiente. 4. Descrença na seriedade crescente da situação. 5. Geralmente, uma tentativa de esconder a verdade sobre o que está acontecendo, enquanto se faz uma tentativa de remediar o problema. 6. Súbito reconhecimento de que a situação está fora de controle ou "in extremis". 7. Finalmente, o cenário máximo de desastre envolvendo perda de vidas e/ou de recursos financeiros; e, por fim, as recriminações. Por isso, algumas questões são fundamentais, para obter-se respostas antecipadas: ■ Há um desastre prestes a acontecer em minha empresa? ■ Nós veremos os sinais? ■ Vamos pará-lo a tempo? ■ Temos habilidades para enxergar os sinais e a cultura para "quebrar a sequência"? ■ Somos inteligentes o suficiente para entender que tem sentido econômico preocupar-se em reduzir ou estancar erros? É recomendado, aprender com os erros dos outros e imaginar o sucesso empresarial sem erros, porque seu futuro pode depender da capacidade de fazer isso. Referências: *DRUCKER, Peter. The Five Deadly Business Sins. The Wall Street Journal, October 21, 1993. MITTELSTAEDT JR., Robert E. Seu próximo erro será fatal. Os equívocos que podem destruir uma organização. Porto Alegre : Bookman, 2006CINCO PECADOS EMPRESARIAIS MORTAIS Por Alfredo Passos – www.administradores.com.br Há alguns anos, Peter Drucker escreveu um artigo descrevendo os "cinco pecados empresariais mortais*", que levaram muitas empresas a ter sérios problemas estratégicos e financeiros. Sua caracterização desses "pecados" incluía: 1. Adoção de altas margens de lucros e preços excessivos; 2. Dar preço errado a um novo produto cobrando o que o mercado suportar; 3. Determinar preços em função do custo; 4. Destruir a oportunidade de amanhã baseado na alteração de ontem; 5. Alimentar problemas e ignorar oportunidades. De muitas maneiras, estes são os tempos mais difíceis para negócios em uma geração. Todos fomos despertados para a necessidade de olhar para além do conforto de nossas vidas cotidianas, para a necessidade de sintetizar as implicações de eventos externos, incluindo o aumento da concorrência. Isso, por sua vez, leva à necessidade de focar não só na execução, mas na execução sem falhas. Não existe meio-termo, afirma Mittelstaedt Jr. (2006). Segundo esse autor, estudos revelam que, apesar de dados específicos poderem ser diferentes entre setores e situações distintos, os padrões de erros anteriores a acidentes são bastante semelhantes. E ainda reforça: "o aprendizado nem sempre provém das fontes que você espera, com sua própria experiência, seu próprio setor ou empresas muito parecidas. É necessário um pouco mais de esforço, mas você pode aprender mais observando exemplos num setor ou numa situação marcadamente diferentes e reconhecer que há grandes semelhanças nos padrões de ações e de comportamentos". Certas situações parecem evidenciar que o erro estratégico irá causar mais impacto do que se pensa: ■ Eles não sabiam que os clientes iam querer uma substituição de um chip defeituoso? (Intel) ■ Eles não sabem que os clientes costumam ser mais fiéis se você admite um erro e o conserta? (Firestone) ■ Eles não sabiam que a alavancagem financeira e/ou fraude poderia acabar com a empresa? (Enron, WorldCom, HealthSouth) Existem padrões comuns nestes casos, segundo Mittelstaedt Jr.: 1. Um problema inicial, que geralmente seria secundário se fosse isolado, mas que não é corrigido. 2. Um problema subsequente que se une ao efeito do problema inicial. 3. Uma correção ineficiente. 4. Descrença na seriedade crescente da situação. 5. Geralmente, uma tentativa de esconder a verdade sobre o que está acontecendo, enquanto se faz uma tentativa de remediar o problema. 6. Súbito reconhecimento de que a situação está fora de controle ou "in extremis". 7. Finalmente, o cenário máximo de desastre envolvendo perda de vidas e/ou de recursos financeiros; e, por fim, as recriminações. Por isso, algumas questões são fundamentais, para obter-se respostas antecipadas: ■ Há um desastre prestes a acontecer em minha empresa? ■ Nós veremos os sinais? ■ Vamos pará-lo a tempo? ■ Temos habilidades para enxergar os sinais e a cultura para "quebrar a sequência"? ■ Somos inteligentes o suficiente para entender que tem sentido econômico preocupar-se em reduzir ou estancar erros? É recomendado, aprender com os erros dos outros e imaginar o sucesso empresarial sem erros, porque seu futuro pode depender da capacidade de fazer isso. Referências: *DRUCKER, Peter. The Five Deadly Business Sins. The Wall Street Journal, October 21, 1993. MITTELSTAEDT JR., Robert E. Seu próximo erro será fatal. Os equívocos que podem destruir uma organização. Porto Alegre : Bookman, 2006 Postado por Wagner Moraes às Domingo, Março 04, 2012 http://compartilhando-wxm.blogspot.com/